terça-feira, 6 de abril de 2010

Passa tempo - Renata

Li certa vez que o melhor a fazer enquanto se espera (por qualquer coisa) é encontrar ocupações. Pois eu tenho procurado várias: tarefas domésticas diárias, leituras de livros, assistir filmes em DVD, sair para tomar um café com amigos no meio de uma tarde de semana, dormir ... Entretanto, pensar é o que tem de fato me ocupado. Pensar no futuro, na minha profissão, no que estou fazendo (ou não) da minha vida.

Um pouco antes de o projeto no qual eu estava trabalhando acabar, fui com familiares jantar em um restaurante japonês. Coincidência ou não, a mensagem do biscoito da sorte dizia:

"Você passará por um teste difícil
que o tornará mais feliz."

Não tenho dúvida de que sobreviver aos meus próprios pensamentos é esse teste. Para mim não há nada mais atemorizante do que eles.

Tenho lido (quando consigo me concentrar) "O Livro Tibetano dos Mortos", uma leitura budista praticada para ajudar o morto a encontrar seu caminho no Bardo, aquele entre a morte e o renascimento. O que me atraiu nessa leitura foi que para os budistas, aprender a morrer é aprender a viver. Até onde eu li, a consciência ao deixar o corpo físico se depara com três estágios nos quais tem a possibilidade de transcender ao nirvana. Em contrapartida, essa mesma consciência sofre a influência ilusória dos desejos e pensamentos da existência prévia e esses, ao mesmo tempo em que maravilham, atemorizam, confundem e afastam a consciência da divina luz. A consciência, incapaz de atingir o nirvana, reencarna.

Nem preciso dizer que ainda viva e longe de atingir o nirvana, encontro-me na mesma situação.

Alguns filósofos dizem que o segredo para uma boa vida é privá-la de desejo. Outros retrucam que privando-a de desejo, privam-na também de vida. Os desejos ao mesmo tempo que nos impulsionam, podem transformar a vida num fardo.

Os meus parecem tão distantes e, às vezes, nem parecem meus. Desejo viver um grande amor, desejo trabalhar num ambiente agradável, fazendo o que gosto e ganhando dinheiro. Desejo conviver bem com meus ambíguos sentimentos e, desejo mais do que tudo, sossego mental!

Dizem que conseguir tudo ao mesmo tempo é praticamente impossível, mas cultivo a esperança de um dia conquistar o impossível. Estive bem próxima do que considero o sossego mental, quando estive em Natal no réveillon de 2009/2010. Claro que o ambiente, as companhias e o fato de eu estar de férias recebendo salário contribuíram para essa conquista. Ajuda saber que já experienciei a sensação que busco, pois isso a torna real, possível.

Por outro lado, o dia a dia transforma essa minha busca numa maratona exaustiva e confusa, regada a opiniões diversas sobre quem sou e o que devo fazer da minha vida.

Há um filósofo moderno que diz que o melhor dia é aquele no qual não pensamos em nós mesmos. Concordo plenamente. Estou exausta de mirar meu próprio umbigo e na tentativa de mudar de foco, resolvi me expor um tanto mais neste blog para ver se, dessa maneira, sacio meu ego e ele pára de me importunar. Pelo menos por ora.

Observação: assim que publiquei o texto acima, recebi uma mensagem de celular de um amigo que está cursando filosofia. Achei que a frase faz relação com este.

"A vida nada mais é que a produção de um cadáver." (Walter Benjamin)