segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Medos que Crescem Conosco (Comigo) - Kate





Quando eu era criança, as viagens mais longas de que me recordo (as únicas que fiz nessa época) eram as que fazíamos todos os anos para a cidade dos meus avós no interior do estado (coisa de 200km no máximo). A medida que nos afastávamos da paisagem conhecida e eu ia acompanhando as luzes das novas cidades por onde passávamos, uma angústia ia se assomando dentro de mim. Só diminuía quando chegávamos na casa dos meus avós e só passava em definitivo quando voltávamos para casa. Quando eu via o mato crescido no quintal, quando o cheiro de poeira entrava em meu nariz, só então meu coração se aliviava por estar no meu lugar, em minha casa.
As viagens noturnas eram meus maiores suplícios. Eu olhava aquelas luzes todas das cidades do caminho, as pessoas desconhecidas sentadas nas calçadas, caminhando pela rua, cruzando com nosso carro, assustada em contemplar o desconhecido.
Hoje, trinta anos depois, os mesmos sentimentos me tomam, quando caminho por um país desconhecido e um terror quer tomar conta de mim quando percebo que é necessário cruzar o oceano para sentir novamente o cheiro da minha cidade.