domingo, 31 de março de 2013

Lar - Renata

Desde janeiro tenho duas casas, melhor dizendo, um lar e uma casa; o primeiro em Osasco e a segunda em Santo Amaro. Ambos têm características similares, cômodos de tamanhos equivalentes, há três dormitórios, dois banheiros, lavanderia e armário embutido na cozinha. Em Santo Amaro tenho uma sacada para uma avenida movimentada e barulhenta e em Osasco tenho uma janela com vista para a rodovia Castello Branco. Pela distância, o ruído contínuo dos carros fica suave e, curiosamente, agradável. Sinto falta desse som. Percebi nas duas últimas semanas como um lar me faz falta. Sinto tanto a ausência dele durante a semana, que evito vir para casa. Vou para o trabalho, onde também estão a academia e os restaurantes. Chego lá às 6h30 e tento sair de lá o mais tarde possível. Quando tenho dança, chego a sair depois das 22h30, só pra chegar em casa e dormir. Triste isso. Resultado: fico apática. Passeia os últimos 15 dias analisando meus sentimentos. Estou numa fase ótima de minha vida. Moro tão perto do trabalho, que não preciso usar transporte público durante a semana. Gasto apenas 20 minutos do meu dia com deslocamento, às vezes, menos, porque há sempre algum amigo do trabalho que passa pela minha rua na volta para casa. Gosto do que faço profissionalmente e tenho alguns colegas de trabalho com quem consigo discutir assuntos complexos, que me ajudam a amadurecer como pessoa e como profissional. Ou seja, não há motivo para ficar triste. Diante desse diagnóstico, analisei meus sentimentos e percebi que sentia falta da comida da minha mãe. Da combinação de temperos, dos ingredientes frescos, do aroma. A comida materna alimenta não só o corpo, como também a alma. Sempre que como a comida da minha mãe, lembro-me do som ligado na cozinha, dela acompanhando a música hummmmm, nanana... o barulho das panelas e do alho fritando. Lembro dela pedindo pra eu tirar as toalhas do varal para não pegar o cheiro da cebola frita. Isso é lar. É aconchegante, seguro, gostoso. Em Osasco, escolhi, junto com minha mãe, a decoração, cada móvel, as cortinas, o forro do sofá. O perfume da minha mãe, combinado com o meu creme de corpo, o cheirinho do Gleide e do amaciante de roupas cria um aroma de lar, que revigora. Em Santo Amaro não tenho isso. Primeiro, eu não cozinho. Não gosto, acho chato, apesar de apreciar um belo, cheiroso e gostoso prato. Não lavo minhas roupas aqui, vivo com mas duas moças que "disputam" o pequeno espaço da lavanderia, então, prefiro levar minhas roupas para lavar em Osasco. Cheguei há pouco no apê de Sto. Amaro e por isso, fico sem jeito de colocar coisas no espaço comum que temos. Por ora, o meu quarto acaba sendo o meu lar. Aqui tem o meu cheiro, um tapete macio, uma mesa, meu computador (me sinto quase uma Carrie Bradshaw, risos), meu colchão e meus travesseiros macios. Aqui sinto quase como se eu estivesse no meu lar, mas esbarro no pequeno espaço e sinto falta de uma sala, de circular pela casa, de ter alguém para bater papo. Fazer café só pra mim é chato, por isso, sempre faço um pouco mais para uma de minhas colegas de apê. Pena que ela coloca o café na garrafa e leva pra tomar no trabalho ao invés de sentar na mesa e tomar comigo :( Há um mês recebi a notícia de que uma das minhas duas companheiras de apê iria se mudar. Fiquei triste porque era a colega com quem mais conversava e, também fiquei preocupada com o valor do aluguel ... se não encontrássemos alguém logo, teríamos que dividir o valor por duas pessoas, ao invés de três. Espalhei a notícia no trabalho e uma garota muito legal se interessou. Ela mudará na próxima terça e trará com ela sofás, tapetes e plantas! Ah, ela também sabe e gosta de cozinhar e de comer. Acho que terei uma companheira de café da manhã e de papos antes de dormir. Tomara! Eu disse a ela que estou tão ou mais contente que ela, porque agora, talvez possamos transformar o apê de Sto. Amaro em lar! :)

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Em busca da história, parte 1 - Renata

Chegou tarde em casa. A chuva deixou o percurso entre o trabalho e a residência intransitável. Só pôde sair da pizzaria, onde ficou com os amigos até as águas baixarem, depois das 20h30. Tirou os saltos assim que entrou no apê. As colegas de casa já estavam dormindo, então, não pôde secar os cabelos. A preocupação com o ruído do secador era bobagem, porque o apê fica em uma avenida movimentada de São Paulo, antônimo de silêncio. Estava cansada, com os pés doloridos e os pensamentos atropelados. O banho quente relaxou os músculos, mas não aquietou a mente. Os olhos estavam manchados de preto, o sabonete não tirou o rimel, nem o lápis; para isso ela teve que usar o demaquilante. No espelho do guarda-roupas só se enxerga do pescoço para baixo. Para ver o rosto ela precisava flexionar levemente os joelhos. Olhando-se no espelho percebeu que a textura da pele mudou, há mais pintas no rosto e uma terceira linha de expressão em cada um dos olhos. Trinta anos de existência, com mais quantos de vida? Mais cedo a amiga lhe perguntara: - Te importa com quantos anos você se tornará uma cineasta? - Não. O que me preocupa é morrer antes disso acontecer. - Quanto a isso, não há o que fazer, afinal, não tem como você negociar isso com a morte. Sim, é verdade. A única possibilidade é viver enquanto lhe é permitido. Portanto, decidiu que se tornaria uma cineasta! Na prática, o que essa decisão significava? Escrever pequenas histórias, fazer vídeos simples, transformar sentimentos em situações. - Quais sentimentos, Renata? - Não sei, ainda, há tantos ... - Pois, escolha um para começar! - Hum ... - Não pensa, escolhe o primeiro que lhe vier a cabeça! Ande, vamos! - Difícil! Estou angustiada, quero contar uma história, mas só o que consigo fazer é escrever sobre o meu ¨estado de espírito¨ e isso eu faço sempre. Poxa, quero fazer diferente! - Se é só o que você consegue fazer no momento, faça isso, já é alguma coisa! - Vou tentar. - Não tente, faça! - Vou escrever sobre voltar a postar no blog, depois do incentivo de duas amigas, a alegria e o riso frouxo ... Talvez amanhã, por hoje cansei.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Em busca da história, prólogo - Renata

Mais um dia. Acordar, comer, trabalhar, malhar, comer e dormir. Mais um dia sem escrever. Rilke dizia ao jovem poeta que ele deveria escrever poemas se isso fosse uma necessidade vital. Talvez, pra ela isso não fosse indispensável, afinal, não escrevia. Ou, o não escrever poderia ser o que a inquietava. Queria escrever uma história singela, bonita, delicada. Trinta anos de existência guardam cenas dignas de filme. Então, porque não materializá-las em roteiro? Quem se interessaria? Isso importa? Não deveria. O que a impede de fazer isso? O eterno medo da rejeição, expor-se não é uma tarefa fácil. Entretanto, não fazê-lo está consumindo sua energia mental, deixando-a apática, chorosa. Por isso, se propôs a escrever, sem pretensão, para apaziguar o espírito. Será que vai rolar?