quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Não sei... - Kate


O que fazer quando não sabemos o que fazer?
Como agir quando não sabemos como agir?
Minha vida depende, em quase todos os aspectos, de mim mesma.
Preciso mudar?
Devo mudar?
Posso mudar?
Ou devo esperar?
Há momentos em que a melhor atitude a tomar é não tomar atitude alguma.
Lembro um dia em que, quando criança, estava numa rua tranqüila brincando de correr com umas amigas, quando um cão enorme pulou o muro de sua casa e veio em minha direção. Foi aterrador ver aquele cão se avolumar na minha frente e o terror tomando conta de mim. Não sei como consegui raciocinar, lembrando de alguém que me falou (ou vi na televisão, não me recordo) que uma boa defesa contra um cão correndo em nossa direção é ficar parado e simplesmente estaquei. Plantei-me ao chão quase com raiz, pronta para ser derrubada por aquelas patas enormes. E de fato, o enorme pastor alemão me alcançou rapidamente e deu uma volta inteira em mim, cheirou-me com alguma curiosidade e logo se desinteressou de mim, escolhendo ganhar a rua enquanto não era novamente contido naquele quintal.
Foi minha atitude em ficar parada que me rendeu sair ilesa da situação. Hoje poderia estar falando de uma mordida canina que tomei quando criança, mas estou falando hoje que não sofri nada.
A atitude de estacar foi determinante naquela manhã.
Será hoje suficiente?
Será hoje necessária?
Não sei se corro.
Não sei se paro.
Não sei.

sábado, 12 de dezembro de 2009

SILENCIO - Kate

Quantos dias mais vivo, menos sei.

Quantas horas mais registro, tomo consciência de que, apesar de amar as palavras, ditas ou escritas, o silêncio delas fala tão alto que é melhor que dez laudas bem escritas.

Não estou falando de queimar os livros, de banir as letras bem amadas, mas de que se enraíza em mim a certeza de que gestos, ações, atitudes, olhares, falam tão bem quanto um discurso, e as vezes melhor.

Silencio para gritar.

Silencio para revelar

Silencio para dizer quem sou, para dizer o que penso, para expressar.

Silencio mais do que escrevo, à medida que envelheço.

No vão de minhas palavras, falo mais alto, me expresso melhor.

No olhar, carrego todos os pensamentos.

Num gesto, revelo todos os meus segredos...

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Terça-feira, 8 de dezembro de 2009 - Renata

5:00 da manhã. O despertador do celular toca. Meu consciente me diz que se eu não levantar logo chegarei atrasada. Chove muito lá fora. 5:05 eu levanto, tomo banho, preparo o café e a marmita. Chamo a minha mãe. Continua chovendo muito lá fora.

São 7h20. Respiro fundo e me preparo para sair. Continua chovendo. A avenida onde pego o ônibus está parada. Vejo o ponto[de ônibus]mais a frente e vou matutando sobre onde poderei aguardar pela condução, já que ele está lotado. Muito lentamente o meu ônibus se aproxima; há pessoas penduradas na porta. Dez minutos depois, avisto outro ônibus e me antecipo: corro até ele antes mesmo de ele chegar ao ponto. Está cheio, mas é possível entrar nele. Dirijo-me até o fundo.

Sinto o meu polegar direito dormente, pois é ele que segurou o guarda-chuva por vários minutos. Pratico a respiração do yoga: inspiro, expiro, lentamente. Aproveito para fazer uma oração, em silêncio, pedindo paciência, sabedoria, coragem e generosidade. As minhas bolsas começam a pesar sobre os meus ombros e o ônibus nem saiu do lugar.

Estou bem pertinho de casa. Voltar para lá é um pensamento que não sai da minha cabeça. Por outro lado, a minha responsabilidade grita: hoje sou a única responsável por abrir o laboratório. Tenho que ir, não importa a hora que chegarei. Fico pensando na minha mãe, que logo mais cairia naquela via engarrafada.

As pessoas começam a fazer telefonemas, ligam para seus trabalhos...

- "Vamo entrá todo mundo às 11h, então? ´Tô desceno."
- "O fulano, dá pra você ligar pro Ciclano e avisar que ´tá o mó trânsito? Eu tô ino, mas não sei que horas chego".
- "Escuta, ´tá o maior trânsito, não vo consegui chegar aí. Posso voltar pra casa? Diz logo, porque ´tô aqui do lado!"

Diante da via praticamente intransitável, algumas pessoas começam a descer do ônibus e eu consigo me sentar. Continuo com a minha respiração e decido viver esse caos como uma experiência: tento relaxar diante da minha impotência sobre a situação, observo a reação alheia e começo a contabilizar as horas - normalmente, levo 1h, 1h30 para chegar até o trabalho.

Depois de 1h, conseguimos sair da avenida próxima a minha casa. O trânsito começou a fluir. A Castelo Branco, entretanto, encontra-se parada e o acesso ao bairro vizinho a minha casa está alagado, porque o braço morto do Tietê transbordou e a via está intransitável. Esse fato complicou o trânsito do meu bairro e dos bairros vizinhos. Tento falar com a minha mãe, mas ela não atende o celular - isso quando a chamada é completada. Essa via interditada é a única opção para chegar até a escola onde ela leciona.

O ônibus chega no meio do meu trajeto e pára novamente. O motorista desliga o motor, são 9h30. Eu envio uma mensagem pelo celular para uma colega de trabalho, avisando que estou a caminho, mas não tenho ideia da hora que conseguirei chegar. Depois de várias tentativas, consigo falar com a minha mãe. Depois de quase 1h ela conseguiu chegar até a escola. Eu também consigo falar com o meu chefe, que me orienta e me libera a voltar para a minha casa.

Eu desço do ônibus e caminho cerca de 15 minutos até o terminal de ônibus. Tem uma linha saindo para os lados da minha casa. O percurso segue tranquilo. São 11h. No centro entram várias pessoas no ônibus e, pelos comentários, todos estavam voltando para casa. Além da impossibilidade de transitar pelas vias, o trem não estava funcionando.

11h30. Chego em casa. Entro na internet para saber o que de fato está acontecendo em SP. O caos está em toda parte. O prefeito dá entrevista, diz que as obras feitas até então para preparar a cidade para as chuvas foram importantes, o problema é o volume anormal de água que caiu sobre a cidade. Eu, sinceramente, não sei o que pensar... é preciso tomar alguma providência a curto, médio e longo prazo, porque, se as coisas continuarem dessa maneira, SP irá parar antes de 2012.