terça-feira, 31 de agosto de 2010

Renascer - Renata

Tenho uma vida boa, cheia de saúde, amigos atenciosos e familiares amorosos. Trabalho na profissão que escolhi e com ela tenho conseguido pagar as minhas contas. Por que eu me sinto tão infeliz a ponto de chorar todos os dias, em qualquer lugar e na frente de qualquer pessoa? De onde vem tanta tristeza?

No dia em que me despedi de Kate, peguei um trem na Estação de Osasco, sentido Estação Morumbi, às 17h30. O vagão saiu cheio e não parou de entrar gente, de modo que tive de saltar uma estação antes, na Berrini, as custas de um pequeno "surto". Gritei, com a voz embargada, para que segurassem a porta pra que eu pudesse descer, senão eu iria morrer. Só me dei conta das palavras que havia proferido quando caminhava pela Berrini com os olhos cheios de lágrimas, tentando dar um sentido para aquilo tudo... O trem no qual eu estava já era o segundo ou o terceiro que passava lotado naquela estação, o que explicava o fato de as pessoas terem forçado a entrada no vagão, mesmo sem ter espaço. Os paulistanos vivem essa rotina diariamente e, mesmo insatisfeitos com ela, parecem se adaptar, como se não houvesse outra alternativa. Será que não há?

Depois de caminhar mais de meia hora, encontrei minha prima querida e seu abraço e carinho foram tão acalentadores e revigorantes, que a minha existência, naquele momento particular, pareceu adquirir sentido outra vez.

Na sexta-feira passada, de novo, estava eu chorando no ônibus de volta para a casa, às 18h. O tráfego era intenso assim como as lágrimas que não paravam de escorrer. Quando eu choro em público, na maioria das vezes, consigo conter os espasmos musculares do rosto e só. Choro quietinha para não importunar ninguém e sempre carrego meus lenços Kiss. Curiosamente, as pessoas sentem-se incomodadas quando percebem o outro nessa situação e com o senhor que estava sentado ao meu lado não foi diferente. Na primeira oportunidade, ele engatou uma conversa comigo: falamos sobre o trânsito, ele imendou com assuntos de trabalho, contou sobre sua esposa e filhos e, quando nos demos conta, chegou a hora de ele descer. Conversar com aquele senhor fez com que, por aqueles momentos, a minha tristeza ficasse suspensa e as minhas lágrimas parassem de cair. Eu estava esgotada emocionalmente e esse papo permitiu que eu descansasse de mim mesma.

Quando chegou a minha vez de descer, segui para o SESI e fiquei assistindo a aula de Power Jump na qual eu estaria se não tivesse pegado trânsito. A música alta e a energia da aula continuaram mantendo minha tristeza em suspenso. Voltando pra casa, ouvi o recado de um colega de trabalho dizendo que tínhamos feito uma boa reunião e que tinha ficado feliz por eu ter tocado (e bem) boa parte dela. Não sei se pela confluência de tudo isso, mas, tive um fim de semana bom, agradável. No sábado estive na companhia dos meus amigos da arqueologia, com os quais trabalho atualmente; percebi o quanto me sinto a vontade e feliz ao lado deles, mesmo não compreendendo muito das piadas e dos assuntos sobre os quais eles conversam. Pensei como a vida pode ser boa. Domingo comemos uma comida saborosa aqui em casa com os tios de Sorocaba, que são sempre muito carinhosos.

Acho que, como a maioria dos seres humanos, tenho o instinto de sobrevivência e, talvez por isso, eu esteja sempre buscando maneiras de sair do pântano no qual me encontro. Suicídio não é uma opção para mim, por isso, fui procurar a terapia, que deverei começar em breve. Terei muito assunto para escrever.

Acho que está na hora de eu renascer, de novo!