domingo, 17 de fevereiro de 2013

Em busca da história, parte 1 - Renata

Chegou tarde em casa. A chuva deixou o percurso entre o trabalho e a residência intransitável. Só pôde sair da pizzaria, onde ficou com os amigos até as águas baixarem, depois das 20h30. Tirou os saltos assim que entrou no apê. As colegas de casa já estavam dormindo, então, não pôde secar os cabelos. A preocupação com o ruído do secador era bobagem, porque o apê fica em uma avenida movimentada de São Paulo, antônimo de silêncio. Estava cansada, com os pés doloridos e os pensamentos atropelados. O banho quente relaxou os músculos, mas não aquietou a mente. Os olhos estavam manchados de preto, o sabonete não tirou o rimel, nem o lápis; para isso ela teve que usar o demaquilante. No espelho do guarda-roupas só se enxerga do pescoço para baixo. Para ver o rosto ela precisava flexionar levemente os joelhos. Olhando-se no espelho percebeu que a textura da pele mudou, há mais pintas no rosto e uma terceira linha de expressão em cada um dos olhos. Trinta anos de existência, com mais quantos de vida? Mais cedo a amiga lhe perguntara: - Te importa com quantos anos você se tornará uma cineasta? - Não. O que me preocupa é morrer antes disso acontecer. - Quanto a isso, não há o que fazer, afinal, não tem como você negociar isso com a morte. Sim, é verdade. A única possibilidade é viver enquanto lhe é permitido. Portanto, decidiu que se tornaria uma cineasta! Na prática, o que essa decisão significava? Escrever pequenas histórias, fazer vídeos simples, transformar sentimentos em situações. - Quais sentimentos, Renata? - Não sei, ainda, há tantos ... - Pois, escolha um para começar! - Hum ... - Não pensa, escolhe o primeiro que lhe vier a cabeça! Ande, vamos! - Difícil! Estou angustiada, quero contar uma história, mas só o que consigo fazer é escrever sobre o meu ¨estado de espírito¨ e isso eu faço sempre. Poxa, quero fazer diferente! - Se é só o que você consegue fazer no momento, faça isso, já é alguma coisa! - Vou tentar. - Não tente, faça! - Vou escrever sobre voltar a postar no blog, depois do incentivo de duas amigas, a alegria e o riso frouxo ... Talvez amanhã, por hoje cansei.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Em busca da história, prólogo - Renata

Mais um dia. Acordar, comer, trabalhar, malhar, comer e dormir. Mais um dia sem escrever. Rilke dizia ao jovem poeta que ele deveria escrever poemas se isso fosse uma necessidade vital. Talvez, pra ela isso não fosse indispensável, afinal, não escrevia. Ou, o não escrever poderia ser o que a inquietava. Queria escrever uma história singela, bonita, delicada. Trinta anos de existência guardam cenas dignas de filme. Então, porque não materializá-las em roteiro? Quem se interessaria? Isso importa? Não deveria. O que a impede de fazer isso? O eterno medo da rejeição, expor-se não é uma tarefa fácil. Entretanto, não fazê-lo está consumindo sua energia mental, deixando-a apática, chorosa. Por isso, se propôs a escrever, sem pretensão, para apaziguar o espírito. Será que vai rolar?