quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Não sei... - Kate


O que fazer quando não sabemos o que fazer?
Como agir quando não sabemos como agir?
Minha vida depende, em quase todos os aspectos, de mim mesma.
Preciso mudar?
Devo mudar?
Posso mudar?
Ou devo esperar?
Há momentos em que a melhor atitude a tomar é não tomar atitude alguma.
Lembro um dia em que, quando criança, estava numa rua tranqüila brincando de correr com umas amigas, quando um cão enorme pulou o muro de sua casa e veio em minha direção. Foi aterrador ver aquele cão se avolumar na minha frente e o terror tomando conta de mim. Não sei como consegui raciocinar, lembrando de alguém que me falou (ou vi na televisão, não me recordo) que uma boa defesa contra um cão correndo em nossa direção é ficar parado e simplesmente estaquei. Plantei-me ao chão quase com raiz, pronta para ser derrubada por aquelas patas enormes. E de fato, o enorme pastor alemão me alcançou rapidamente e deu uma volta inteira em mim, cheirou-me com alguma curiosidade e logo se desinteressou de mim, escolhendo ganhar a rua enquanto não era novamente contido naquele quintal.
Foi minha atitude em ficar parada que me rendeu sair ilesa da situação. Hoje poderia estar falando de uma mordida canina que tomei quando criança, mas estou falando hoje que não sofri nada.
A atitude de estacar foi determinante naquela manhã.
Será hoje suficiente?
Será hoje necessária?
Não sei se corro.
Não sei se paro.
Não sei.

sábado, 12 de dezembro de 2009

SILENCIO - Kate

Quantos dias mais vivo, menos sei.

Quantas horas mais registro, tomo consciência de que, apesar de amar as palavras, ditas ou escritas, o silêncio delas fala tão alto que é melhor que dez laudas bem escritas.

Não estou falando de queimar os livros, de banir as letras bem amadas, mas de que se enraíza em mim a certeza de que gestos, ações, atitudes, olhares, falam tão bem quanto um discurso, e as vezes melhor.

Silencio para gritar.

Silencio para revelar

Silencio para dizer quem sou, para dizer o que penso, para expressar.

Silencio mais do que escrevo, à medida que envelheço.

No vão de minhas palavras, falo mais alto, me expresso melhor.

No olhar, carrego todos os pensamentos.

Num gesto, revelo todos os meus segredos...

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Terça-feira, 8 de dezembro de 2009 - Renata

5:00 da manhã. O despertador do celular toca. Meu consciente me diz que se eu não levantar logo chegarei atrasada. Chove muito lá fora. 5:05 eu levanto, tomo banho, preparo o café e a marmita. Chamo a minha mãe. Continua chovendo muito lá fora.

São 7h20. Respiro fundo e me preparo para sair. Continua chovendo. A avenida onde pego o ônibus está parada. Vejo o ponto[de ônibus]mais a frente e vou matutando sobre onde poderei aguardar pela condução, já que ele está lotado. Muito lentamente o meu ônibus se aproxima; há pessoas penduradas na porta. Dez minutos depois, avisto outro ônibus e me antecipo: corro até ele antes mesmo de ele chegar ao ponto. Está cheio, mas é possível entrar nele. Dirijo-me até o fundo.

Sinto o meu polegar direito dormente, pois é ele que segurou o guarda-chuva por vários minutos. Pratico a respiração do yoga: inspiro, expiro, lentamente. Aproveito para fazer uma oração, em silêncio, pedindo paciência, sabedoria, coragem e generosidade. As minhas bolsas começam a pesar sobre os meus ombros e o ônibus nem saiu do lugar.

Estou bem pertinho de casa. Voltar para lá é um pensamento que não sai da minha cabeça. Por outro lado, a minha responsabilidade grita: hoje sou a única responsável por abrir o laboratório. Tenho que ir, não importa a hora que chegarei. Fico pensando na minha mãe, que logo mais cairia naquela via engarrafada.

As pessoas começam a fazer telefonemas, ligam para seus trabalhos...

- "Vamo entrá todo mundo às 11h, então? ´Tô desceno."
- "O fulano, dá pra você ligar pro Ciclano e avisar que ´tá o mó trânsito? Eu tô ino, mas não sei que horas chego".
- "Escuta, ´tá o maior trânsito, não vo consegui chegar aí. Posso voltar pra casa? Diz logo, porque ´tô aqui do lado!"

Diante da via praticamente intransitável, algumas pessoas começam a descer do ônibus e eu consigo me sentar. Continuo com a minha respiração e decido viver esse caos como uma experiência: tento relaxar diante da minha impotência sobre a situação, observo a reação alheia e começo a contabilizar as horas - normalmente, levo 1h, 1h30 para chegar até o trabalho.

Depois de 1h, conseguimos sair da avenida próxima a minha casa. O trânsito começou a fluir. A Castelo Branco, entretanto, encontra-se parada e o acesso ao bairro vizinho a minha casa está alagado, porque o braço morto do Tietê transbordou e a via está intransitável. Esse fato complicou o trânsito do meu bairro e dos bairros vizinhos. Tento falar com a minha mãe, mas ela não atende o celular - isso quando a chamada é completada. Essa via interditada é a única opção para chegar até a escola onde ela leciona.

O ônibus chega no meio do meu trajeto e pára novamente. O motorista desliga o motor, são 9h30. Eu envio uma mensagem pelo celular para uma colega de trabalho, avisando que estou a caminho, mas não tenho ideia da hora que conseguirei chegar. Depois de várias tentativas, consigo falar com a minha mãe. Depois de quase 1h ela conseguiu chegar até a escola. Eu também consigo falar com o meu chefe, que me orienta e me libera a voltar para a minha casa.

Eu desço do ônibus e caminho cerca de 15 minutos até o terminal de ônibus. Tem uma linha saindo para os lados da minha casa. O percurso segue tranquilo. São 11h. No centro entram várias pessoas no ônibus e, pelos comentários, todos estavam voltando para casa. Além da impossibilidade de transitar pelas vias, o trem não estava funcionando.

11h30. Chego em casa. Entro na internet para saber o que de fato está acontecendo em SP. O caos está em toda parte. O prefeito dá entrevista, diz que as obras feitas até então para preparar a cidade para as chuvas foram importantes, o problema é o volume anormal de água que caiu sobre a cidade. Eu, sinceramente, não sei o que pensar... é preciso tomar alguma providência a curto, médio e longo prazo, porque, se as coisas continuarem dessa maneira, SP irá parar antes de 2012.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Tragédia Grega - Renata

Nesse meu novo trabalho, estou tendo contato com a tragédia grega "As Traquínias", de Sófocles. Antes disso, já havia lido e discutido "Édipo Rei", do mesmo autor, nas aulas de Argumento na faculdade. Naquela época, o gênero não me pareceu tão interessante quanto me parece agora.

Na tragédia, os personagens sabem de antemão o ato funesto que está para lhes acontecer e, na tentativa de evitá-los, acabam por consumá-los. Segundo estudiosos da trama trágica, os Deuses se comunicam com os mortais através do oráculo na tentativa de educá-los para evitar a concretização da tragédia; entretanto, os mortais com suas paixões e limitações, compreendem as mensagens de acordo com os limites de seu entendimento.

Essa peça foi escrita no século V antes de Cristo. O fato de ela ter sobrevivido até os dias de hoje significa, no mínimo, que ela, de alguma maneira, se mantém atual.

Diversas vezes ao longo da vida, me vejo diante de uma situação, cujo resultado futuro está praticamente implícito e, embora não seja tão funesto quanto as revelações do oráculo na tragédia grega, tampouco é agradável. Diante da pretensa ilusão de que tal pressentimento é bobagem, uma força interna me impulsiona a seguir em frente. Eu ajo, concretizo o presságio e padeço.

A razão pela qual a tragédia grega me parece mais intrigante do que nunca é porque hoje identifico-me com os personagens e com as atitudes tomadas por eles. Muitas dessas foram motivadas por paixões que também motivam muitas de minhas atitudes.

Sempre que não compreendo aquela vozinha interior que me orienta a não mexer com fogo e eu me queimo, penso "I should've known better". Mas, o fato é que eu não sabia. Ou sabia e escolhi agir mesmo assim. Lembro-me de um comentário postado pela Pat, minha sábia amiga do campo, sobre a personagem Alice, cuja teimosia a guiou para um mundo repleto de novas experiências do outro lado do espelho.

O meu brincar com fogo faz-me sofrer e chorar, mas também tem me ensinado a sentir a vida, suas dores, frustrações, felicidades e descobertas exatamente como devem ser sentidas: nem mais, nem menos.

Devo confessar que já sofri horrores por não saber sofrer controladamente. Poderia ter tido uma infância e adolescência mais feliz se soubesse naquela época o que sei hoje. Mas, como os estudiosos mesmo dizem, nós agimos sempre conforme as limitações de nosso entendimento.

domingo, 16 de agosto de 2009

Amor Imperfeito - Renata

Quando criança, eu achava que não era digna de ser amada porque meus cabelos não eram loiros, meus olhos não eram claros e meu nome não era Vanessa. Na adolescência, eu achava que meu pai não me amava porque ele foi (é) um pai ausente. Já adulta, cheguei a pensar que, como mulher, talvez eu não fosse digna do amor de um homem... E tudo isso porque a minha concepção de amor sempre esteve associada a uma determinada ideia de perfeição, que deturpou a maneira como eu sentia a minha vida.

Depois de muito sofrimento, de algumas terapias, de muito conversar com amigos e até mesmo de me expor neste blog e receber comentários, tenho vivido a minha vida de uma maneira mais leve. Hoje em dia, aprendi a amar a Renata Mendes Ribeiro do jeitinho que ela é, o que não significa que eu tenha desistido de melhorar algumas de suas características. Meu pai continua ausente, afinal, ele mora do outro lado do mundo, mas sei (e sinto) que ele me ama à maneira dele, que não necessariamente é igual ao que eu costumava idealizar. Quanto a ser digna do amor de um homem, digo que sou digna de amor, afinal sou um ser humano que erra e acerta tanto quanto os demais e que deseja amar e ser amada como qualquer outra pessoa.

Nestes 27 anos de existência, aprendi a ser mais flexível e aberta à vida, tendo a consciência de que todos somos perfeitos em nossa imperfeição, que nem sempre seremos amados pela pessoa que amamos, assim como nem sempre amaremos a pessoa que nos ama. Às vezes, escolhemos amar o outro mesmo não sendo correspondido. Outras vezes, aquele que nos ama faz questão de construir uma amizade para seguir nos amando e sendo amado por nós, mesmo que de outra maneira, diferente da inicialmente desejada. Essas escolhas dependem do quanto amamos o outro e de quanto o outro nos ama e deseja compartilhar sua vida com a gente, mesmo que como um amigo.

Como meu amigo Aggeu sempre diz, o amor incondicional, sem apego, faz bem a todos, mas não é senso comum. Depende de uma mudança na maneira como sentimos o amor e a vida. Como eu desejo desassociar a dor do amor, tenho procurado sentir esse amor incondicional; às vezes, sinto que me aproximo dele, outras vezes ele me parece mais distante. O importante é seguir tentando essa aproximação.


Dedico esta reflexão ao meu amigo Aggeu, com quem compartilho minha busca por uma vida mais leve, mais feliz e com quem aprendo muito sobre mim mesma e sobre o amor.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Desarme-se, prima - Renata

Esta noite passei mais algumas horas agradáveis com minha querida prima Kate no msn. Conversamos via webcam e eu pude ouvir sua deliciosa gargalhada, cujo poder de me animar é impressionante. Contei a ela as novidades profissionais, além dos acontecimentos do dia.

Hoje foi um dia especial, planejado para ser um dia sem planos. Ou quase. Uma atividade eu tinha certa para mim: visitar uma exposição de livros de artista no Centro Universitário Maria Antônia. Pois bem, fui ver os livros objetos e os objetos em forma de livro, mesmo com aquele monte de água que resolveu despencar nesta quarta-feira.

Depois disso, senti-me livre para decidir, sem pressão, a próxima atividade. Desci na frente do HSBC Belas Artes para conferir as atrações cinematográficas e os horários, mas achei melhor comer alguma coisa antes. Fui na Bella Paulista, recomendação de uma colega de trabalho muito querida; comi um sanduíche de forneria que me pareceu o tal Bauru do Ponto Chic, um prato paulistano que essa mesma colega afirmou, eu tinha que conhecer. Comi o sanduíche Paulista, acompanhado de uma Bohemia Long Neck. DELICIOSO!

O celular marcava 15h e tanto e eu resolvi dar uma volta no shopping. Nada me apeteceu o suficiente para gastar dinheiro. Resolvi voltar para casa antes de o trânsito caótico ter início. Até essa parte, contei para a Kate. Só não contei que ao chegar em casa fui acometida por uma tristeza, extravassada em muitas lágrimas.

Embora as engrenagens exteriores estejam se ajustando, há ainda algumas coisas internas não resolvidas. Sem saber, Kate me disse "Desarme-se, prima", referindo-se a um determinado assunto, mas eu sinto que o desarmar-se pode servir para várias outras situações em minha vida.

Já tenho feito uso dele quando tomo o trem, que costumava ser um martírio para mim num passado recente: nem sempre o cheiro é agradável para o meu olfato ou as imagens são prazeirosas para a minha visão, mas tenho encontrado um prazer cotidiano no andar de trem, especialmente quando vejo a marginal engarrafada pela janela, enquanto sou transportada sem interrupção.

Também tenho me desarmado com relação às pessoas. No início desta semana, fui abordada por um homem embreagado no metrô, que me cutucou e perguntou: "Você tem medo da morte?" Depois de responder a sua pergunta com um sorriso simpático, eu disse que não estava a fim de conversar e ele, curiosamente, respeitou a minha vontade.

Agora falta aplicar o "desarme-se" na área sentimental. Sigo aguardando a oportunidade para fazê-lo.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Tempo de viver - Renata


Nunca fui fão do campo porque não gosto de insetos, mas gostaria de ter vivido a experiência de acompanhar o desenvolvimento de uma planta, do momento em que ela é posta na terra até o seu florescimento. Acho que tal vivência diminuiria minha ansiedade diante da vida.

Desde que me lembro, sinto como se estivesse aguardando o tal florescimento que nunca chega. Fico na expectativa de algo amorfo que corresponderia ao momento tão esperado da flor, quando esta desenvolve-se em toda a sua forma e esplendor... o momento em que minha vida aconteceria. Aconteceria porque eu seria independente, bem resolvida comigo mesma e teria encontrado o parceiro para compartilhar a caminhada.

Tenho semeado a independência, o respeito e o amor próprio e já é possível vislumbrar o início do que se poderia chamar florescimento, mas até o pleno desabrochar dessas sementes restam ainda algumas estações. Essa espera me causa certa ansiedade, que procuro controlar, porque a minha vida está acontecendo agora em toda a sua forma e esplendor.

Raízes fortes e bem estruturadas estão sendo formadas e poderão garantir a sustentação da flor, quando ela estiver pronta para desabrochar. Penso sempre que o importante é tentar viver da melhor maneira possível o hoje, mas sem esquecer que o amanhã é uma possibilidade concreta.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Vantagens de ser ter um amigo gay (compreenda aqui gay: homem ou mulher homossexual) - Kate




Você já deve ter se perguntado umas mil vezes, aproveite para se perguntar agora uma vez mais, por que danado, fulana/fulano é gay??? Como é que pode um homem igual a mim, cheio de pêlos na cara preferir se agarrar a outro marmanjo a beijar a boca deliciosa de qualquer mulher? Como é que pode uma mulher como eu, não preferir um homem com pernas musculosas entre as minhas à uma mulher, que eu sei exatamente como é cada parte do corpo????
Pois é, a questão pode até ser assim, simples, na sua cabeça, mas o raciocínio não passa por aí. Você, mulher na flor da idade, já se arrepiou toda por ver passar ao seu lado aquele cara alto, musculoso, com um sorriso lindo e uma voz que lhe deixa zonza? E você, homem com os hormônios explodindo, já ficou “de pau duro” só de ver aquela vizinha da frente na janela tirando a roupa? Então, você sabe exatamente como é sentir-se atraído por alguém, não importa como você raciocine. Pois o cara alto, musculoso, com um sorriso lindo pode ser o namorado de sua amiga e a vizinha gostosa pode ser a mãe do seu melhor amigo, mas o que vocês vão fazer se gostam disto???? É assim mesmo que um gay sente. Ele não se sente atraído por uma mulher gostosa, mas pelo cara alto, musculoso... e isto não é algo que dependa da vontade dele. Então você, homem, já não virou o pescoço para dar aquela espiada na bunda da vizinha e você, mulher, já não passou mil vezes na frente do amigo do seu irmão, porque quer que ele a note? Lembre-se, você não escolheu gostar tanto de abacaxi e detestar vitaminada de abacate.

Por isto, se seu amigo teve coragem suficiente para dizer que é gay, numa sociedade que espera muito de todos nós, não o recrimine, nem fique pensando que ele ou ela vai te agarrar, afinal, você não se sente atraído por todas as mulheres ou homens do mundo, não é mesmo? E é mais provável que seu amigo, gay recém revelado, queira apenas continuar sendo seu amigo, e pronto. Queira compartilhar de suas angústias e frustrações, de suas conquistas e amores, como um simples ser humano que ele é, no fim das contas.

Vamos listar algumas vantagens de se ter um amigo gay:

1ª vantagem: a mais óbvia de todas – se vocês são duas mulheres, vai sobrar mais homem no seu pedaço para você azarar. Sua amiga não fará a menor questão de olhar aquele bonitão na praia que olha na direção de vocês e você não tem certeza de qual das duas ele está interessado. Inclusive ela até pode te ajudar passando informações de que ele esteja olhando ou não quando você se virou. Ela será uma grande aliada. É verdade que também você terá que ajudá-la em suas conquistas, mas pelo menos você não correrá o risco de se cair na música do Roberto: “estou amando loucamente a namoridinha de um amigo meu...rs (no seu caso, de uma amiga minha...).

2ª vantagem: se você é mulher e seu melhor amigo é gay, tenha certeza de que ele lhe dará as melhores dicas e será capaz de responder àquelas suas dúvidas cruéis de que roupa deverá usar para conquistar aquele homem maravilhoso, qual papo ajudará a chegar junto, o que os homens mais detestam e montes de segredos que nenhum homem jamais ousaria contar diretamente a uma mulher. E se ele não for muito vistoso, assim, obviamente gay, até poderá fazer a linha contigo em algumas festas. Você sabe o quanto uma mulher acompanhada chama mais atenção de que chegar sozinha numa boate. Aproveite seu amigo para esbanjar seu charme e chamar atenção. É verdade que talvez seu amigo lhe cobre este favorzinho depois... mas você jamais correrá o risco de namorar um frutinha, pois ele cheirará o cara quilômetros de distância.

3ª vantagem: você terá o dobro de amigos que tem agora, pois seu amigo/amiga gay conhece zilhões de outros gays, assim, sua rede de relacionamentos será mais extensa. Você terá mais possibilidades no mercado, pois na lógica, todo aquele pessoal gay que você vai conhecer tem irmãos e irmãs, primos, primas, amigos, amigas... Pense!

4ª vantagem: nesta sociedade moderna não poderão jamais chamá-lo/la de antiquado pois você tem amigos de todas as tribos.

5ª vantagem: Já viu as festas espetaculares que os gays promovem? Você vai se esbaldar de tanto dançar! Virará noites se divertindo o que afinal é o que importa nesta vida.

Nestes dias de Parada do Orgulho Gay, eis aqui algumas pequenas vantagens de ter ao seu lado um(a) amigo(o) incrível que a única diferença que tem de você é beijar a boca de alguém do mesmo sexo. E pode ter certeza, não é algo que se escolhe, mas que se vive!

sábado, 13 de junho de 2009

Do mar e de suas lembranças - Kate




Moro numa cidade litorânea, com praias belíssimas e recentemente me mudei para um bairro perto da praia.
Já faz uns 3 meses que estou aqui no bairro e minha relação com o mar maravilhoso pertinho era só de vê-lo na ida para o trabalho ou umas duas caminhas mornas pelo calçadão.
Esta semana entrei no mar. E uma tonelada de lembranças povoou minha mente.
Para tornar o banho saudosista, uma recém amiga entrou comigo e ficamos batendo papo sobre o mar e nossas lembranças.
Lembrei que era exatamente assim que ficava com meus pais, tios e avô nas águas quentes da praia de Genipabu nas minhas férias de adolescente. Meus irmãos e primos iam logo cedo para a praia tomar sol e banho de mar enquanto eu ficava enfiada numa rede lendo meus livros e esperando a tarde chegar quando todos os adultos fechavam a casa e descíamos para a praia. É verdade que algumas vezes fui também tomar sol pela manhã, mas nunca soube dosar a quantidade certa e acabava por descascar a pele. Já dormiu com as costas ardendo? Não dá pra dormir...rs.
Então o mar além de todas as energias e beleza estonteante, me faz lembrar da infância, adolescência, da família, de brigas e muitas gargalhadas.
O mar é todo este furor e impetuosidade que a gente pode ver, a espuma lambendo a areia branquinha, as ondas quebrando com força e a vista se perdendo na linha do horizonte...
Tudo de bom.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Do bom de sentir saudade - Kate




Sei que estou ficando velha.

Não pelos anos que me são acrescentados, nem pelo fio de cabelo branco que já encontro todos os dias em minha basta cabeleira.

Sei que estou ficando velha, porque olho os jovens com mais doçura, com uma suave melancolia e sinto uma pontada de inveja quando observo hordas de garotos adolescentes atravessarem na faixa de pedestres à minha frente com o suor lhes manchando as camisas e um ar de triunfo no rosto imberbe.

Sei também porque os tempos de minha adolescência me parecem cada vez mais doces e distantes. Todas as agruras e incertezas que enfrentei, aqueles problemas abissais que me pareciam insolúveis e dolorosos, me trazem hoje um sorriso ao rosto.

Os tempos infantis, as brincadeiras de minha infância das quais esqueci as cantigas me parecem ter ocorrido noutra galáxia, noutro universo. O garrafão desenhado a giz branco no asfalto, o ônibus escolar que nos apanhava na porta de casa, os copos de amendoim que ganhei nas merendas da escola, além dos rasgões nas calças e os sermões dos professores parecem ter acontecido a outra pessoa. Parecem cenas de diversos filmes que assisti ao longo da vida. Todas as lembranças se misturam em minha mente e, boas ou ruins, todas me trazem saudade.

Gostaria de poder fazer-me entender pelos que passam pela infância e juventude agora. Gostaria de mostrar o filme do que é ser adulto. Ser adulto é ter saudade de um tempo que não volta jamais. Ser adulto é enfrentar as dores e o medo e não ter a barra da saia da mamãe para agarrar.

É por este discurso que tenho certeza de que estou ficando velha, mas não abro mão da juventude e da leveza que ainda habitam dentro de mim.


PS . Tenho 35...

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Um novo começo - Renata


Ontem, 13 de maio de 2009, completei 27 anos de vida. Desde que me tornei adulta sinto meus aniversários como ritos de passagem. Recordo os momentos mais significantes de minha vida e tento antever o que ainda está por vir de acordo com os desejos ainda não concretizados.

Este ano, mais do que todos os anteriores, percebo meu aniversário claramente como um novo ano que se inicia em minha vida pessoal e profissional, ambas diretamente ligadas.

Semana passada comecei num novo emprego cheio de desafios. A cada um deles que transponho, percebo que minha confiança em mim mesma como pessoa e como profissional se fortalece e vai, aos poucos, amenizando minha insegurança.

Há algum tempo, tenho buscado um equilíbrio interno, aquele sobre o qual Kate escreveu neste blog. Um estado de espírito que nos mantém serenos e sábios para tomar decisões em situação de estresse, cada vez mais corriqueiras.

Saio para o trabalho todos os dias no mesmo horário e, geralmente, sei o trânsito que irei enfrentar e em quais pontos de meu trajeto. Porém, há dias em que esta porção de trânsito é maior do que eu esperava e, portanto, é preciso pensar rápido em alternativas para chegar ao trabalho.

Situação boba, alguns podem pensar, mas quando se agenda uma gravação ou uma reunião e há outros profissionais contando com sua pontualidade, o estresse e o medo de não chegar a tempo podem ser desgastantes.


Para este novo ano de minha vida desejo pensamentos mais saudáveis, paz de espírito, desejo sentir as coisas exatamente do jeito que elas são, sem exagerar nada; gostaria de substituir a melancolia pela serenidade e assim transformar minha vida numa caminhada mais leve.

terça-feira, 14 de abril de 2009

A solidão de todos e de cada um - Kate



Sinto minha solidão diminuir.
O infinito sempre me pareceu maior aos 12 anos,
quando a noite se avolumava pra dentro de mim,
trazendo consigo todas as interrogações que ainda carrego, tanto anos depois.

Sim, tenho solidões menores.
O vento frio de hoje fustiga-me menos de quando daquelas longíquas noites infantis.
Aterrava-me a noite.
Hoje tenho somente um medo controlável do negrume silencioso que nos acomete todos os dias.

Assim, com a gradativa proximidade do fim, o medo diminui,
o costume se instala e quase chego a ansiar que já se acabe.

As solidões se acumularam e acostumei-me com elas.
Vêm sozinhas ou acompanhadas,
sentam-se ao meu lado e me compreendem profundamente.
Não preciso falar ou chorar como antes,
apenas respirar suavemente,
deitar meu olhar no infinito e aguardar até que me deixem em paz uma vez mais...

domingo, 29 de março de 2009

Libertando Segredos - Renata


Há uma frase de Oscar Wilde que ouvi há alguns anos sobre dar forma à tristeza e assim torná-la querida para si mesmo. Esta frase muito me marcou, achei-a forte e bastante significativa. Depois disso, li Rilke sugerindo ao jovem Kappus que este escrevesse sobre sua própria existência cotidiana, suas mágoas e seus pensamentos passageiros em relatos íntimos, humildes e sinceros.

Desde que iniciamos este blog, Kate e eu temos dado forma a nossas dores, angústias e reflexões cotidianas e por meio delas nos expomos um pouquinho a cada postagem. Às vezes, ultrapassamos um pouco nossa linha de segurança e nos mostramos um tanto mais do que havíamos cogitado, mas isso é bom. Creio que mantemos muito de nossa privacidade - ambas prezamos muito isso - mas, também fazemos o exercício de equilibrá-la com o colocar-se ao mundo para, assim, poder vivê-lo plenamente.

Eu sempre gostei de conversar sobre o inefável, assim como racionalizar o que está além da razão. Às vezes, isso cansa, porque exige muita reflexão e liberdade imaginativa para fazê-lo, mas acho que se eu não o fizesse, já teria enlouquecido.

Considero-me uma pessoa racional - mesmo que nem sempre eu consiga agir dessa maneira - entretanto, minha percepção do mundo sempre se deu através de sensações que vão além da razão. Ainda criança eu podia sentir a tensão entre meus pais quando eles estavam em vias de brigar; quando se é adolescente ou adulto, tem-se ferramentas racionais para perceber coisas desse tipo, mas eu tinha menos de 7 anos e sentia tudo, sem racionalizar. Nem preciso dizer que tive vários problemas de saúde decorrentes de fundo emocional.

O bom de tornar-se adulto é o acúmulo de conhecimento que vem com os anos e com as relações sociais. São essas experiências que fornecem elementos para a compreensão do inefável, do irracional que rege nossa existência racional. Um entendimento que vai além da classificação racionalista, mas que nos permite aceitar, sem muitos traumas, a movimentação do Universo, mesmo que, por vezes, esse movimento siga um curso inefável.

A arte dá formas a esse movimento universal amorfo: sentimentos, percepções, sensações. Dizem que uma das características mais marcantes de Frida Kahlo foi o fato de ela ter dado uma forma para a dor, sua companheira inseparável desde a infância. Quando quiseram denominar seu trabalho de surrealista, Kahlo disse que pintava a si mesma, um tema que conhecia profundamente.

Frida Kahlo pintou a dor para poder suportá-la e a pintou lindamente porque a conhecia intimamente.


Escolhi o cinema para dar forma às minhas dores e este blog tem sido um exercício com o qual vou aprendendo a transformá-las em textos, expondo um pouquinho do meu íntimo a cada postagem. Dessa maneira, sou capaz de viver um dia de cada vez sem, no entanto, enlouquecer.

quinta-feira, 26 de março de 2009

O que será? Pra que será? - Kate



Já amadureci
Já engulo o choro
E me escondo no banheiro

Já amadureci
Já sei conversar sem atenção
E rir sem achar graça

Por educação

Amadureci
Agora já posso ser comida


20/03/09
(Pra quê?)

quinta-feira, 12 de março de 2009

Um poema para nao morrer - Kate



Pela Janela aberta


Sempre vejo a vida
Acontecendo
Além de minha janela

As vozes
Os gritinhos infantis
Me fazem crer
Que o tempo corre para eles

Para mim
Apenas acentua
Meus traços
Enrijece meu corpo
E me gasta as vistas

O sol atinge minha janela aberta
Aquece os cômodos
E traz os ares de fora

O vizinho refez o muro
O menininho que andava de bicicleta
Agora se move veloz em seu carro.
O pai dela, ali na esquina,
Já morreu há tempos...

E eu?
Quando viverei?


(porque viver acontece lá fora)

segunda-feira, 9 de março de 2009

Da delicada arte de amar (e ser amada) - Kate

Quanto de amor suporta um coração?

Será que a vida nos dá um tempo para sofrermos e outro tanto para sermos felizes?

Será que existem cotas de felicidade para cada um de nós, exceto para alguns em que o desequilíbrio se estabelece e dentre estes alguns sofrem a vida inteira sem amor e outros são amados todos os dias de sua existência?

Quanto de amor suporta um coração?

Quanto de amor suportará meu coração?

Porque estremeço de alegrias de amor, porque me regozijo na paz do amor que sinto e pelo qual sou correspondida.

Haverá prazo de validade para o amor?

Haverá príncipes ou princesas encantadas?

Porque não sou a princesa encantada, mas vivo feliz e rindo a toa.
Tenho certeza de que sou privilegiada.

Porque encontrei o amor. Porque o quero para sempre em minha vida. Porque sorrio e me alegro, mesmo nos momentos de tristeza que qualquer ser humano causa por ser imperfeito.

Porque agora compreendo o que significa amar as imperfeições, os defeitos do outro.

Meu amor dorme ao meu lado todas as noites e durante o dia me faz declarações de amor. Que mais posso eu querer? Que cozinhe com perfeição? Que saiba onde ficam minhas blusas no armário? Que se lembre de todas as datas importantes?

Não. Basta que me ame para sempre, a cada manhã.

terça-feira, 3 de março de 2009

Quem tem uma saúde de ferro? (dê pra mim!) - Kate


Neste exato instante estou exausta de uma ida até a esquina.
Já fui até lá querendo voltar para a cama e descansar um pouco. Escrever agora está sendo um esforço.
Estava pensando em escrever sobre minha herpes labial e justamente na ida até a mercearia da esquina ampliei o assunto e decidi falar sobre minha saúde.
Uma amiga do trabalho diz-me na cara que sou fresca, quando por causa de uma gripe já amoleço e até fico febril.
A Nathália fala que tenho a saúde frágil e vai tomar um choque quando eu lhe mostrar o atestado médico que tenho de apenas um dia. Ela quer que eu fique em casa por três dias no mínimo para me recuperar completamente.
Hoje o que me mantém na cama é uma mistura de gripe com faringite. E ainda estou saindo de uma crise de herpes labial.
Lembro de quando pequena, ser magra como um palito e inconscientemente, até os 12 anos quando fiz uma cirurgia, eu tinha de escolher entre comer e respirar. Não esqueço nunca das sandálias da minha mãe brandidas no ar quando eu sempre ultrapassava mais de 60 minutos à mesa. Coitada, não sabia do meu problema e creditava a minha lerdeza.
As adenóides foram embora junto com minhas amigdalas na cirurgia aos 12 anos. Pensei que minhas crises de garganta e gripes constantes iriam embora completamente. Pelos menos deixei de escolher entre comer e respirar e assaltava constantemente a despensa de minha mãe recebendo elogios de minha avó paterna quando eu estava alem do meu peso na adolescência.
Somos umas filhas molengas. Quando tínhamos gripe, frequentemente desmaiávamos. Os romances tratam os desmaios com romantismo, foi mesmo muito romântico acordar uma noite deitada no chão gelado do nosso quarto vendo a lua alta no céu, após retornar de um desmaio. Fora este dia, lembro também de não ter chegado a tempo ao banheiro numa das devastadoras gripes que tínhamos e ser posta na cama por meu pai. Lembro bem dos seus olhos preocupados enquanto me batia levemente nas faces. Tenho que confessar que eu estava com as calças encharcadas de xixi... lembro também de todos os dindins de vovó que não pude desfrutar porque sempre estava gripada, constipada, com crise de garganta ou qualquer coisa perto disso.
Na adolescência contraí herpes labial, sabe Deus como. Sempre escondi essa doencinha chata por achar que as pessoas iriam pensar coisas ruins ao meu respeito porque sempre associam a herpes à doenças sexualmente transmissíveis. Então prefiro não alardear que tenho herpes labial, para não dizer também que na época em que contraí a doença minha vida sexual sequer existia. Somente há algum tempo confirmei que a transmissão não se dá somente pelos meios sexuais. Minha herpes contraí com algum abraço/beijo em alguém ou algo parecido. Tenho poucas crises desde então, mas do ano passado para cá acho que esta já é a segunda ou terceira vez. E nem sei precisar bem a razão, pois pode ter sido em função do estresse, do sol demais ou de baixa imunidade.
Bem, a fresquinha está na cama mais uma vez e espero que amanhã eu já esteja recuperada para viver a vida além do quarto.
(a foto tirei outro dia, num dia saudável...rs)

sábado, 21 de fevereiro de 2009

O futuro a Deus pertence - Renata

Esta semana aceitei o convite de um amigo e fui a uma casa espiritualista que ele frequenta; fui consultar-me com uma médium.

Eu não tenho o hábito de procurar respostas ou orientações em outras pessoas, porque tenho a sensação de que ninguém melhor do que eu mesma para saber o que se passa no meu íntimo. Entretanto, eu fui em busca de palavras de um espírito, um ser que não mais habita o mundo material e portanto deve ter uma percepção muito mais ampla de tudo isso do que nós mortais. Fui na expectativa de ouvir "você está fazendo a coisa certa" e, quem sabe, mais alguns detalhes do que ainda está por vir, mas a médium disse exatamente o que eu já tinha certo pra mim: estou numa fase de transição, devo "ouvir" e "seguir" meu coração, sabendo que tudo o que acontece em minha vida tem algo a me ensinar. Os caminhos estão interligados e eu devo viver intensamente cada dia dessa fase transitória, pois é nela que algumas características minhas irão se fortalecer - traços que serão necessários para mim no futuro. Depois disso, o papo mudou completamente de direção e a médium falou-me sobre as necessidades de um parente próximo e encerrou o papo dizendo: "temos um tempo médio de atendimento e eu só me prolongo quando a pessoa que me procura está com problemas sérios, o que não é o seu caso". Minha consulta terminou aí.

Confesso que saí dali um pouco frustrada, especialmente porque meu amigo havia me confidenciado a experiência prévia que teve com essa mesma médium e as revelações que ela lhe havia feito. Entretanto, meu amigo havia me alertado sobre a possibilidade de eu sair de lá sem resposta alguma, pois há coisas que nos podem ser antecipadas e outras que devemos concluir nós mesmos.

Essa experiência lembrou-me a única visita que fiz a uma cartomante em 2001. Um centro holístico estava apresentando seus serviços por valores pequenos. Nesse caso, fui direta:

- Quando arrumarei um namorado?
- Você sai pra balada?
- Não.
- Aí fica difícil!

Logo em seguida, a mulher desembestou a falar da vida amorosa da minha mãe! O que havia sido e o que estava por vir!

Esse acontecimento veio claramente a minha cabeça e me deu a certeza de que o futuro a Deus pertence. Se eu tivesse a capacidade de antever o futuro, provavelmente teria ainda mais medo dele e pode ser que eu tivesse evitado muitos dos caminhos que acabei escolhendo. Se eu tivesse feito isso, hoje seria outra pessoa e teria outra vida. E eu gosto da minha vida e da pessoa que tenho me tornado.

Esta semana li uma frase na TV do ônibus que dizia assim: "a vida é linda pra quem não tem medo dela". Só não deu tempo de ler o autor dessa frase.

Apresento um poema que me consumiu - Kate

Invasão


Sequer bate à porta,
Invade-me os espaços.
Bate-me com força nas faces,
Sopra no meu rosto
E abandona-se sobre mim, pesadamente.
Não importa se respiro ainda,
Ou não.

Basta que eu escreva o poema
Basta que seja como queira:
- uma escrava,
Sem vontades,
Sem desejos.


O poema vem
E me penetra
Com força
Com vigor

E depois
Que escrevo tudo,
Todo
Posso até morrer...


(08 de outubro de 2008)

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Fisiologia - Renata

Em agosto passado, coloquei aparelhos ortodônticos na tentativa de corrigir minha mordida e, consequentemente, amenizar a minha DTM (Disfunção Têmporo Mandibular). Essa disfunção decorre do desequilíbrio do sistema mastigatório. A mandíbula tem duas Articulações Têmporo Mandibular, uma de cada lado da face, cuja existência nos permite mastigar, falar, comer, beber. Li num site especializado que, segundo os neurologistas, esta é a articulação mais importante do corpo pela quantidade de nervos existentes. Além destes, há músculos, tendões, líquido sinovial, vasos sanguíneos e disco articular.

Por alguma razão, minha arcada dentária modificou-se de tal maneira ao longo do meu desenvolvimento físico que eu mastigava apenas do lado esquerdo, causando um trabalho excessivo para uma das ATMs. Eu costumava sentir muitas dores de cabeça, de ouvido e só percebi o quão grave estava meu caso quando comecei a sentir tontura no ônibus. Foi quando resolvi tentar reorganizar minha arcada dentária, na tentativa de corrigir essa disfunção ou, ao menos, ameniza-la.

Antes de iniciar o tratamento, assinei um contrato no qual estou ciente da possibilidade de ele não surtir o efeito desejado; o sucesso depende basicamente da resposta que cada organismo dá a série de procedimentos ministrados pelo ortodontista. Eu resolvi arriscar, pois não tinha nada a perder, muito pelo contrário: dando certo, corro o risco de curar a minha DTM.

Seis meses depois, estou lidando com a mudança radical que essa escolha causou em minha vida e não somente nos meus hábitos alimentares. Meus dentes que antes pareciam no lugar, agora estão completamente desorganizados; como diz a dentista, "está pegando nada com coisa nenhuma". Além da sensação física, ainda há a percepção que tenho do meu rosto, ele parece um pouco fora de proporção: parece mais fino e a região da minha boca parece mais protuberante. Ainda assim estou confiante no tratamento e para a minha dentista, meu organismo está respondendo rápido a ele.

Como não posso evitar, fiz uma analogia dessa minha reorganização dentária, uma questão meramente fisiológica, com a vida. Penso que as grandes mudanças são antecipadas pelo caos, denominado sinônimo de confusão pelo Houaiss, mas que na tradição platônica, significa "o estado geral desordenado e indiferenciado de elementos que antecede a intervenção do demiurgo, por meio da qual é estabelecida a ordem universal". Não sei o que é "demiurgo", mas o fato de ser algo desordenado que antecede uma organização, já me parece suficiente para reforçar o que estou querendo dizer aqui.

Toda nova organização depende de uma desorganização extremamente necessária. Observar o que mudou em si mesmo, o que não funciona mais pra si mesmo, os novos caminhos que se pretende seguir em busca do que se procura. Algumas pessoas acham que o melhor mesmo é evitar o caos, mas pelas experiências de caos que tive no passado, sei que a minha vida não seria tão boa quanto é hoje, se eu não o tivesse vivido. É claro que naqueles períodos eu não o concebia como algo necessário, já que representava muita tristeza e dor ... às vezes, até física. Sem essas experiências, entretanto, eu não saberia o tanto que sei sobre mim mesma e sobre o que quero pra mim daqui em diante.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Coragem - Renata

Recebi um cartão de natal com uma frase de Guimarães Rosa sobre as inconstâncias da vida e sobre o fato de que tudo o que ela exige de nós é CORAGEM. Mencionando esta a um amigo querido, fiquei sabendo que Cora Coralina escreveu algo semelhante, sobre bater em várias portas (como a da esperança, por exemplo), mas somente a CORAGEM ter-lhe acolhido.

Eu sempre evitei a CORAGEM, embora seja ela inevitável. Sempre que precisei dela, evitei sua presença ao máximo. Esquivava-me sempre que podia, mas quando chegava o momento em que não há escolha senão enfrentar o problema, lá estava ela a me olhar de maneira travessa, como se dissesse: "cá estou".

Uma das características que vem com o tempo é a compreensão de que um problema não desaparece sozinho. É como uma doença que acomete o corpo e causa dor; pode-se tomar remédios para camuflar seus efeitos colaterais, mas ela seguirá lá desenvolvendo-se até que seja feito um tratamento para extirpá-la.

Pela primeira vez em minha vida, decidi eu pedir sua companhia. Convidei-a pra sentar, ofereci um chá e conversamos abertamente sobre meus próximos passos. Muito compreensiva e amiga, ela disse-me que haverá momentos mais difíceis que outros, mas há algo me esperando do outro lado do Oceano. Eu confessei a ela meu receio por seguir em mar aberto, especialmente quando só o que consigo ver é a terra na qual estou pisando. Ela garantiu-me que há terra na outra ponta do Oceano, só que eu ainda não consigo enxergá-la.

De uma coisa estou certa: quaisquer que sejam as inconstâncias do mar, se eu me mantiver tranquila, não lutar contra a maré, o meu corpo mesmo será uma bóia que me manterá na superfície; certamente engulirei um pouco de água, mas seguirei respirando. Aprendi isso na aula de física.

Ah, querida Pat, resolvi seguir o coelho e bem na hora certa!

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O tempo que tiver que durar? - Renata

O tempo que tiver que durar? Tenho pensado muito sobre isso ultimamente - de novo, estamos em sintonia. No final do ano passado também perdi uma amiga; na verdade, deixei ela partir, não quis seguir com nossa amizade. Gosto muito dela, mas curiosamente não tenho boas lembranças do tempo em que partilhávamos confidências, conversas e passeios. Talvez porque ela seja tão densa quanto eu, cheia de dúvidas, questionamentos e melancolia. Depois de 12 anos de amizade, altos e baixos, achei que tivéssemos construído uma relação sólida, duradoura até que um ato meu desencadeou uma atitude pouco generosa e compreensiva da parte dela, exatamente num momento da minha vida em que eu mais precisava de apoio incondicional e principalmente compreensão e generosidade. A princípio, achei que o desencanto surgido do que aconteceu passaria, que tudo o que vivemos juntas durante esses anos todos fosse apaziguar e transformar o desencanto numa amizade mais forte, como já havia acontecido algumas vezes. Mas, não. Refleti sobre o ocorrido e percebi que ele era apenas um indicativo de uma relação que já estava caminhando para um fim. Apesar de tudo, gosto muito dela e sua presença é forte e constante em meus pensamentos.

Entretanto, compreendo o vazio que a perda de um amigo ou uma pessoa querida causa. Também compartilho desse sentimento, especialmente quando faço de tudo para que a separação não ocorra. Em toda relação há duas partes que precisam querer e cultivar o carinho, o prazer de estar junto; quando uma das partes não sente que o "esforço" vale a pena, não há conversa. Às vezes, essa pessoa somos nós, às vezes é o outro.

Essa é mais uma das tantas perguntas sem resposta, daquelas que Rilke falava.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Quanto tempo dura uma amizade? - Kate

Acredito no poder da amizade.
Acredito que no dia-a-dia construímos junto ao outro, relacionamentos cheios de graça, leveza, energia, bondade, amor, carinho e muita paixão.

Amigos não nos deixam enlouquecer naqueles dias terríveis.
Amigos nos tornam melhores.
Amigos nos acolhem e nos aceitam tal como somos, vêem nossos defeitos e acima de tudo têem prazer em estar conosco.
Acredito na amizade.

Quanto tempo dura uma amizade?
Você se lembra exatamente do dia em que conheceu aquele seu amigo espetacular? Aquela pessoa especial com quem você divide gargalhadas e receios? Aquele amigo foda com quem você foi capaz de contar aquele seu segredo cabeludo ultra secreto?

Não importa a data, nem a hora não é mesmo? Importa é que ele está do seu lado, mesmo muitas vezes a distância (o lado bom da internet). Importa que você sabe que com ele você pode contar.

Mas quanto tempo dura uma amizade? Será que há um prazo de validade? Será que amizade se expira?
Tenho amigos de longa data.
Tenho amigos recentíssimos.
Já perdi uma amizade.
Perder um amigo é como perder um sentido. É como sentir menos o perfume da vida, como ver menos a vida passar adiante de nós.
Perder um amigo deixa um buraco. Um vazio na alma, um espaço oco na mente, um vão escuro no coração.
(E não estou falando de amigos que deixam essa vida, mas de amigos que optaram por deixar nossa vida).
Conto os dias de perda de minha amizade. Passeio pelas ruas conhecidas e sinto um vazio. Parece que morri um pouco. Acho que morro um pouco todos os dias, depois que perdi minha amiga. Quando tenho uma novidade, penso nela, penso em ligar e compartilhar. Quando tenho novas piadas, guardo para contar para ela. Quando lembro, me dou um sorriso triste, respiro fundo e tento esquecer.
Mas o pior é quando estou triste, necessitada do apoio daquela minha amiga.
O vazio demora dias para amenizar.
Quando preciso de sua opinião firme, sincera, amiga.
Quando sinto saudades de nossas conversas, de suas opiniões e às vezes só do seu sorriso.
Perder um amigo é como perder um pouco de nós mesmos.
Não importa quantos amigos tenhamos, importa que aquele perdido é especial, único, como nenhum outro jamais o será...
Amigos se afastam e vão-se, mas jamais saem de dentro do nosso coração...

(Este texto escrevi quinta-feira passada, coincidentemente no sábado foi comemorado o dia do amigo. Gostaria de ter escrito sob outra ótica, gostaria de não perder amigos...)

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A falta que o equilíbrio faz - Kate

O equilíbrio é algo raro, difícil, raramente buscado e pouco alcançado.
Com equilíbrio podemos pensar com clareza, sentir com intensidade sem enlouquecer, nos expressar com justiça, realizar com firmeza, todas as atividades diárias.
Com equilíbrio, a dor não desaparece, mas fica relegada ao seu lugar, sem atropelar as atividades do dia-a-dia.
Com equilíbrio podemos atravessar com calma as agruras que nos acontecem ao longo da vida.

Já faz um tempo que acho que o maior problema da humanidade é o equilíbrio, isto é, a nossa falta de equilíbrio.

Se falamos alto demais e nossa mãe nos passa um sermão, ficamos amuados e passamos ao silêncio. É só falar baixo, pronto. Mas radicalizamos e vamos para o outro extremo.
Lembro que uma vez, quebrei um disco que adorava do Kid Abelha, só porque achava que não era música de Deus. Poxa! Deus nos fez, como diz a Bíblia, à sua imagem e semelhança e hoje julgo que o que fazemos de bom, inclusive boas músicas são dele também. Era um LP, mas me arrependo demais! Pela minha atitude radical.

Fui radical aquele dia e tenho certeza de que em outros mais.
Pior ainda quando somos radicais com o outro. Se eu estou certa, então você só pode estar errado, é assim que julgamos uns aos outros. A partir de nossas atitudes e experiências vamos julgando o outro, ignorando toda a sua carga de experiência até aquela atitude, até aquela conversa.
Gostei muito do início daquele seriado “Lost”. Eu mesma me peguei julgando as atitudes, capítulo a capitulo de alguns personagens e num capitulo posterior a vida daquele personagem era desfiada, até entendermos porque ele agiu daquela forma. Muitas vezes não concordei, mas estava explicado. Muitas vezes foi como levar um tapa na cara pelo julgamento que fiz! Eu teria agido mil vezes pior se fosse comigo!

Talvez, se pudéssemos desacelerar um pouco nosso ritmo de vida e parar para olhar o outro com mais completude, talvez pudéssemos nos entender melhor.

Não fomos educados para parar e pensar. Ser parado é ser lerdo, devagar, aluado (como dizemos aqui em Natal), avoado (como devem dizer em Sampa). Temos de ser agitados, rápidos, enérgicos, porque o tempo urge e pelo jeito parece que ruge também!

Ser equilibrado é agir com atenção, usar bem as palavras e o silêncio.
Ser equilibrado é se esforçar um monte para não julgar o outro (pense numa coisa difícil!).
Ser equilibrado é agir com maturidade.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Das perguntas - Kate

As perguntas estão por toda parte. Já nascemos com elas.
Por exemplo, a raça humana não sabe de onde veio e não tem a menor certeza científica de para onde vai. Assim, sem falarmos de religião ou alguma teoria fantástica. Estamos neste mundo para viver o hoje, o presente e nada mais. Parece que o sol se levanta todas as manhãs e nos grita isso. Parece que quando o dia se põe e a noite vem chegando ela sussurra devagar em nossos ouvidos: prepare-se, descanse, amanhã tem um dia novinho a ser vivido.
Cientistas, pensadores, filósofos, religiosos, poderosos, matemáticos, místicos. Ninguém jamais provou que a teoria que defende sobre o pós-vida está correta. Já reparou nisso? Vivemos, matamos uns aos outros, nascemos, evoluímos e nada de decifrarmos estes pontos delicados de de onde viemos e para onde estamos indo. Creio tratar-se de um aviso, pense você mesmo de quem, que reafirme a idéia do presente. O presente é tudo o que temos. Viveremos e morreremos e muitas de nossas interrogações não encontrarão um ponto final.
Não podemos acrescentar horas ao nosso dia, nem retirar sequer um minuto. Todos, indistintamente vivemos 24horas do dia, sejamos pobres, ricos, crianças, velhos, homens ou mulheres.
As perguntas estarão sempre em nossa bagagem. Se serão um fardo ou uma excelente companhia, cabe a cada um de nós decidir.

(...)
Meu texto acima ficou muito bonito e filosófico, eu sei, mas o dia-a-dia não é tão simples assim. Na rotina diária, queremos respostas para ontem, explicações para anteontem e por isto temos frustrações aos montes.
Lembro de quando pequena, acreditar que minha mãe tinha o poder de fazer passar qualquer dor que eu pudesse sentir. Minha primeira frustração aconteceu por volta dos 7 ou 8 anos, quando de uma dor de ouvido ela me informou q eu tinha mesmo que esperar o efeito do remédio ou, se não passasse, teríamos de voltar novamente ao médico.
Desde a infância descobri que não teria a resposta que estava aguardando, nem minha mãe poderia dá-las para mim quando eu exigisse.
Foi na adolescência que tencionei ter todas as respostas para as grandes perguntas ( de onde viemos, para onde vamos, se há vida inteligente em outros planetas...) e somente após alguns anos de insistentes questionamentos a Deus, me resignei em minha insignificância, pois concluí que, se Ele não havia respondido ao grandes pensadores, questionadores históricos, não seria a mim que iria falar.
Então sigo tranqüila agora, acompanhada de uma tonelada de perguntas que tenho ciência de que jamais saberei as respostas.... as vezes não é fácil passar em branco, em outras consigo seguir adiante...

O tempo das coisas - Renata

No senso comum existe a idéia de que o relacionamento entre pai e filha é determinante nas relações futuras de uma mulher. Se isso for mesmo verdade, eu estou ferrada, porque não lembro de meu pai e eu termos tido um relacionamento bem sucedido.

Desde que me lembro, idealizo um relacionamento feliz e completo com uma pessoa do sexo oposto. Um ideal que ainda não se concretizou. Relacionei-me poucas vezes e em nenhuma delas posso dizer que estive próxima da felicidade ou da completude. Exatamente o contrário.

Observando pessoas queridas a minha volta, percebo que para alguns , quando se trata de encontrar um parceiro (a) e relacionar-se com ele (a), as coisas fluem com a maior naturalidade. Estudando em outra cidade é possível conhecer e se apaixonar por uma pessoa que, curiosamente, vem da mesma cidade. Ou, fazer planos de ir embora para outro país, mas começar a trabalhar e, nesse ambiente profissional, encontrar a cara metade e decidir ficar, casar e constituir família. Eu entendo e imagino que em todo relacionamento há altos e baixos, período de adaptação ao outro e a necessidade de compreender os limites do outro e ser flexível.

Uma vez, conversando com minha querida prima com quem divido este blog, fiquei surpresa ao descobrir que a imagem que ela fazia de mim - no que diz respeito a relacionamentos - era a de uma princesinha a espera do príncipe encantado! Fiquei chocada ao saber que é esta a imagem que passo aos outros. Sinceramente, nunca me vi dessa maneira. Talvez, eu espere muito mesmo de um homem quando desejo que ele seja fiel e me tenha como alguém tão especial, que não tenha necessidade de sair com outras pessoas enquanto estiver comigo. Isso parece ser tão difícil de encontrar...

Justiça seja feita, tenho amigos e familiares do sexo masculino que acredito que são fiéis a suas esposas e namoradas. Ainda assim, continuo achando que são poucos os que pensam assim.

Ouvi uma vez que não importa o quanto se goste ou se tenha tesão por alguém, um dia isso acaba, como tudo na vida. Isso porque o ser humano é insatisfeito por natureza. Será mesmo? Independente disso, as pessoas se casam, têm filhos e esperam que para eles seja eterno.

Minha mãe contou-me a história de uma conhecida a quem ela admira muito, uma senhora que viveu o grande amor de sua vida depois dos 50 anos. Como a grande maioria das mulheres de sua época, ela casou-se e teve filhos. Depois de anos de matrimônio, o marido assumiu-se homosexual e partiu; isso na década de 70. A família do marido era da Hungria e a maioria deles vivia lá. Depois da notícia - não sei quanto tempo depois - ela conheceu o irmão do marido e os dois apaixonaram-se e ficaram juntos.

Histórias como essa me fazem pensar no tempo das coisas, no tempo da vida. Para cada um de nós existe um tempo para que cada coisa aconteça. E esse tempo nunca é igual ao de outra pessoa. Nunca.

Dia desses tive um sonho que achei bastante significativo. Eu tomava um rumo, um trem mais precisamente, cuja direção eu não conhecia. Resolvi pegá-lo porque só havia ele parado na estação e todo mundo ia em direção a ele. Pois bem, subi e segui até um momento que me ocorreu descer e perguntar para onde ia aquele trem. A pessoa para a qual eu perguntei, repreendeu-me por eu ter pego aquele trem em específico, porque eu havia desviado-me de meu caminho e por isso, eu levaria muito mais tempo para chegar onde deveria.

Acordei decidida a prestar mais atenção à escolha do meu caminho. Antes de seguir pra qualquer lugar, certificarei-me da direção onde o caminho me guiará e gastarei alguns minutos pensando se eu gostaria de ir para esse lugar.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

A busca pelas respostas - Renata



É por trechos como o postado abaixo, que "Cartas a um jovem poeta" tornou-se um livro de cabeceira. Embora há algum tempo eu não o pegue pra ler, muito do que li nele ainda ecoa em meus pensamentos.


Talvez porque Rilke tenha conseguido verbalizar o inefável. Todos os dias há milhares de pequenas coisas - algumas nem tão pequenas assim - que não conseguem ser explicadas pela razão e por isso há bilhares de perguntas sem resposta. Por exemplo: escolhe-se com muito cuidado um caminho a seguir e, a princípio, a caminhada segue tranquila até que surgem "as paixões" (depois explico o que são elas), nos sacodem de um lado pro outro, guiando-nos para um caminho completamente diferente do imaginado. Esse desvio é tão assustador e nos deixa cheios de perguntas: por que, por que POR QUE?


Às vezes, esses porques são respondidos, ou melhor, compreendidos muitos anos depois, quando se tem a possibilidade de observar a história, o todo que se desenvolveu após e em decorrência do desvio causado pela paixão (paixões). É por isso que quando um desvio desses deixa-me completamente às escuras, eu penso que é porque estou tão confusa com o chacoalhão que desviou-me do meu caminho inicial, que não tenho como enxergar "the big picture", como costumam dizer os norte-americanos.



É nessa hora que me apego às experiências passadas e ao que tenho de concreto em meu presente e agarro-me a isso com todas as minhas forças. Dessa maneira, vou vivendo um dia de cada vez, aguardando com muita fé a chegada de dias melhores ou dias nos quais eu sinta meus pés mais firmes no chão.

sábado, 17 de janeiro de 2009

O poeta Rilke e as perguntas


Tem paciência com tudo não resolvido em teu coração
E tenta amar as perguntas em ti
Como se fossem
Quartos trancados ou livros escritos em idioma estranho.

Não pesquises em busca de respostas
Que não te podem ser dadas,
Porque tu não as podes viver,
E trata-te de viver tudo.

Vives as grandes perguntas agora.
Talvez num dia longínquo
Sem o perceberes
Te familiarizarás com a resposta...

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Palavras - Kate

As palavras me dizem tudo. Mesmo quando ditas em silêncio.
Transmitem-me alegria e tristeza, solidão e companhia, amor e indiferença, riqueza e pobreza.
As palavras estão por toda parte. Sobem pelas paredes, atravessam portas, invadem o cheiro, o sabor, a visão, tudo.
As palavras estão nos gestos, no olhar, no silêncio, nas expressões. Também nas imagens. Em todas elas e todas as palavras estão impregnadas de imagens.
Em meio às palavras, misturadas a elas, estão os símbolos: a exclamação, o ponto final, o travessão, a vírgula, mas minha paixão é a interrogação. Aquela cabeça redonda, o corpo delgado e um ponto simples abaixo. Pronto. Minha identificação foi imediata. A interrogação resume o mundo inteiro. Começamos em algum lugar, por algum motivo e não sabemos onde vai terminar, então a interrogação é a tradução perfeita de tudo e de todos nós.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Imagens - Renata

Imagens estão por toda parte: propagandas, fotografias de família, filmes. Elas são tão encantadoras e tantas que confundem a mente, fazem o real e a ilusão parecerem uma coisa só. Além das imagens mais palpáveis, existem as que cada ser tem de si mesmo e a que outro tem daquele que está próximo. Não há nada mais conflituoso e confuso do que esses tipos de imagens. São eles que definem o rumo, as escolhas de cada um.
E quando a imagem que se tem de si próprio nem de longe corresponde ao que se gostaria? Como alterar uma imagem que já veio consigo, trazendo traços dos antepassados, mas também características que de tão intrínsecas parecem vir de fábrica?
Gostaria de poder transformar a imagem que tenho de mim mesma.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Ainda começo - Kate


Em nossa casa crescemos habituados a sempre receber algum parente em viagem. Moramos perto do aeroporto de Natal e como temos parentes no interior, em São Paulo, além de sempre ter alguém passeando mundo afora, recebemos sempre parentes de passagem. Então, acho que em abril de 2006, quando mainha nos falou que íamos receber uma prima que havia ido ao interior conhecer o resto da família e ia dar uma passada lá em casa, nem suspeitei que estava para conhecer alguém especial.
Cheguei à noite em casa e já me encantei pela garota bonita que estava na calçada da minha casa. Passeamos naquele fim de semana, mostrando alguns pontos turísticos de Natal e me senti tranqüila e à vontade ao lado de Renata. Poucos meses após sua volta para São Paulo, planejei uma ida até lá e reforçamos os laços daquela amizade que nasceu de forma tão despretensiosa.
A internet foi o meio pelo qual nossa amizade vingou. Trocamos idéias, confidências, inseguranças, saudades, dores e muito carinho. Descobrimos, à distância, o prazer nesta amizade.
Admiro sua paixão pelo cinema, arte na qual se graduou e tive a honra de estar lá na época, admiro seu espírito inquieto, questionador, sua leveza, seu caráter e sobretudo seu carinho com os que ama.
Minha vontade de ter um espaço como este na net é antiga, mas meu medo de me expor também. Assim quando Renata me falou que tinha vontade de ter um blog, não tive dúvida, me ofereci para fazermos isso juntas.
(Esta foto, foi quando nos conhecemos em 2006. A Renata é a da direita)

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Pra começar - Renata


Kate e eu teclamos por duas horas no msn, discutindo sobre o blog, sobre como começa-lo. Sugeri que o texto inicial falasse mais sobre quem somos. Na parte destinada à descrição do perfil, não há espaço pra mais de uma pessoa, portanto, tivemos de adaptá-lo. Aqui, porém, posso nos apresentar melhor.


Somos primas de terceiro grau e nos conhecemos há mais de um ano, quando estive pela primeira vez em Natal, visitando uma amiga muito querida. Essa viagem proporcionou-me a incrível oportunidade de não só conhecer minha prima Kate, mas uma parte da família, sobre a qual sempre ouvi falar, mas pouco sabia de fato.


Fiquei encantada com todos eles, especialmente com as semelhanças e particularidades que nos conectavam. Houve uma simpatia instantânea com todos eles, mas com a Kate essa simpatia se transmutou em amizade virtual - virtual, porque nossas conversas acontecem por email e msn - mas, nossa relação é muito real.


Compartilhamos angústias, pensamentos, opiniões, dúvidas e questionamentos. Ambas gostamos de escrever, mas dificilmente mostramos a alguém, pois temos medo de nos expor, mas também estamos cansadas de nos esconder. Expor-se significa colocar-se à mercê de julgamentos alheios, mas também estimula um cuidado com a exposição das ideias, para que elas sejam claras, mas também belas.


Daí surgiu o blog "libertando segredos" , de autoria coletiva de uma paulista e uma nordestina, primas que se conheceram na idade adulta, mas que compartilham o desejo de escrever e de expor o que escrevem, mas nunca ousaram fazê-lo sozinhas.