quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

No limite - Kate

Diga-me por favor
O que fazer quando estamos perdidos?
Por favor
As escolhas diante de nós
Os caminhos a percorrer

Não faço a menor ideia
Não tenho bússola
Não tenho planos
Só quero continuar em frente
Até saber onde este caminho vai dar

Diga você, por favor
É aqui?
É aqui o lugar?
Eu quero asas para voar
Saber se posso voar
A volta de você
Para saber se posso
Voar para sempre contigo…

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Das incertezas - Kate



Quanto mais vivo, menos sei…
É esta a certeza que se cristaliza à medida que passam meus dias aqui neste planeta.
Se a Terra é redonda,
Se nos movemos devagar a volta do Sol,
Estas são somente formas racionais de vermos o mundo.

Mas acumulam-se as incertezas junto às horas que me são acrescentadas.
Se eu sou boa,
Se há outras dimensões fora daqui,
Estes são apenas ínfimos pedaços das dúvidas que carrego em minha lista.

As únicas certezas que se afirmam a cada dia para mim:
O dia é hoje, o momento é agora, o movimento é já.

sábado, 4 de dezembro de 2010

O Amor tem de ser livre - Kate

Ninguém precisa trazer o amor em rédeas
Não é necessário mostrar-lhe a direção
Nem apontar o caminho

O amor não precisa de justificativas
Para se lembrar de como deve ser

Por isto, pararei de procurar o amor
Ele virá me encontrar onde eu estiver
Não farei esforço
Não me esgueirarei pelas ruas ou vielas
Gritando seu nome,
Ele virá ao meu encontro

Tão fresco e tão puro
Quanto deve ser

Tão suave e quente
Quanto se espera

A partir de hoje,
Não farei esforços, amor
Esperarei até que você mesmo grite o meu nome.


porque preciso ser achada)

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Medos que Crescem Conosco (Comigo) - Kate





Quando eu era criança, as viagens mais longas de que me recordo (as únicas que fiz nessa época) eram as que fazíamos todos os anos para a cidade dos meus avós no interior do estado (coisa de 200km no máximo). A medida que nos afastávamos da paisagem conhecida e eu ia acompanhando as luzes das novas cidades por onde passávamos, uma angústia ia se assomando dentro de mim. Só diminuía quando chegávamos na casa dos meus avós e só passava em definitivo quando voltávamos para casa. Quando eu via o mato crescido no quintal, quando o cheiro de poeira entrava em meu nariz, só então meu coração se aliviava por estar no meu lugar, em minha casa.
As viagens noturnas eram meus maiores suplícios. Eu olhava aquelas luzes todas das cidades do caminho, as pessoas desconhecidas sentadas nas calçadas, caminhando pela rua, cruzando com nosso carro, assustada em contemplar o desconhecido.
Hoje, trinta anos depois, os mesmos sentimentos me tomam, quando caminho por um país desconhecido e um terror quer tomar conta de mim quando percebo que é necessário cruzar o oceano para sentir novamente o cheiro da minha cidade.

sábado, 11 de setembro de 2010

Reinventar-se - Renata


Desistiu de esperar pelo o que nunca veio.

Escrevi esse microconto na oficina "soltando a língua", ministrada pelo Marcelino Freire. Inspirei-me no mito que circula sobre a morte do pensador Walter Benjamin, que teria se suicidado, temendo ser capturado pela Gestapo; ele teria fugido para os Pirineus, onde seria resgatado por compatriotas judeus, mas, desistiu de esperar, se matou e o resgate chegou logo em seguida. Ouvi essa história na faculdade e ficou para mim como um amuleto em momentos, como agora, em que minha fé está debilitada.

A vida não tem sentido, mas, como ser humano, eu preciso criar um sentido para a minha vida, senão, ela não vale o esforço que eu faço para vivê-la. Hoje tive a minha primeira aula na pós e lá ouvi do professor, que citou a Santaella, que as melhores coisas da vida não servem para nada, mas, fruí-las é um prazer, que, por si só, serve para nos mover adiante. Percebi o quanto gosto de estudar, de aprender e de compartilhar o que penso e sinto com as pessoas. Apenas preciso aprender a compartilhar com aquelas que tem interesse no que se passa em minha cabeça e em meu coração.

O trabalho costumava ser uma experiência enriquecedora, capaz de recarregar minha fé nessa minha existência. Há algum tempo deixou de ser assim. Não sei se são meus colegas ou o trabalho que deixou de me inspirar e de me dar prazer em fruí-lo. Não sei. Reconheço que é hora de me reinventar como profissional, como mulher e como pessoa. Como será isso eu não faço ideia. Ainda. Mas, terei mais paciência que Benjamin e esperarei pelo resgate.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

SOBRE PÁSSAROS - Kate



OS QUE ESTÃO VOANDO E PRINCIPALMENTE OS QUE ESTÃO PRESOS NO CHÃO


Nos meus banhos de sol, quase diários, caço pássaros.

Não tenho armas, sequer um apito, mas fixo meus olhos no céu, mesmo em dias de sol forte e apuro as vistas até que consiga enxergar um.

Estes são os melhores momentos do meu dia e quando não vejo nenhum, fecho os olhos, sinto o vento soprar suave na minha pele e lembro de cada pássaro que vi até aquele dia. Lembro detalhes como voos em espirais, asas retesadas, assobios estridentes. Qualquer lembrança é suficiente para me fazer sorrir, aqui embaixo.

Quando vejo algum diferenciado, pego lápis e papel e arrisco um desenho. Tudo para que nenhum detalhe se perca. Tudo para que, em dias nublados, como os de agora, eu não esqueça que voar é meu objetivo de vida…


(porque nunca devemos esquecer quem somos, de onde viemos e onde queremos chegar)

domingo, 5 de setembro de 2010

Depois da tormenta - Renata

Quinta-feira, 02 de setembro de 2010, começou a minha terapia. Haviam me dito que as vagas abririam apenas em 2011 e eu já estava procurando outra alternativa quando recebi o telefonema agendando a primeira consulta, para o dia seguinte.

Cheguei mais cedo e aproveitei para passar no Núcleo de Pesquisa onde participei de uma prova de seleção para um curso de especialização na minha área. Há quase duas semanas eu estava aguardando o resultado do processo seletivo e por isso resolvi descobrir o porquê da demora. Tive uma surpresa agradabilíssima, pois minha dissertação recebeu a nota máxima e por mérito terei isenção na mensalidade do curso, que terá duração de 1 ano e meio. Meu e-mail havia sido digitado errado, por essa razão, o resultado nunca chegou para mim. De certa maneira, foi mais gostoso receber a grande novidade pessoalmente.

Naquele dia chorei um pouquinho na terapia, mas saí de lá radiante, feliz da vida, porque agora tenho uma motivação, voltar a estudar, a aprender coisas novas, conhecer pessoas diferentes. Fui caminhando até o ponto do ônibus distribuindo sorrisos e estou assim até hoje.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Renascer - Renata

Tenho uma vida boa, cheia de saúde, amigos atenciosos e familiares amorosos. Trabalho na profissão que escolhi e com ela tenho conseguido pagar as minhas contas. Por que eu me sinto tão infeliz a ponto de chorar todos os dias, em qualquer lugar e na frente de qualquer pessoa? De onde vem tanta tristeza?

No dia em que me despedi de Kate, peguei um trem na Estação de Osasco, sentido Estação Morumbi, às 17h30. O vagão saiu cheio e não parou de entrar gente, de modo que tive de saltar uma estação antes, na Berrini, as custas de um pequeno "surto". Gritei, com a voz embargada, para que segurassem a porta pra que eu pudesse descer, senão eu iria morrer. Só me dei conta das palavras que havia proferido quando caminhava pela Berrini com os olhos cheios de lágrimas, tentando dar um sentido para aquilo tudo... O trem no qual eu estava já era o segundo ou o terceiro que passava lotado naquela estação, o que explicava o fato de as pessoas terem forçado a entrada no vagão, mesmo sem ter espaço. Os paulistanos vivem essa rotina diariamente e, mesmo insatisfeitos com ela, parecem se adaptar, como se não houvesse outra alternativa. Será que não há?

Depois de caminhar mais de meia hora, encontrei minha prima querida e seu abraço e carinho foram tão acalentadores e revigorantes, que a minha existência, naquele momento particular, pareceu adquirir sentido outra vez.

Na sexta-feira passada, de novo, estava eu chorando no ônibus de volta para a casa, às 18h. O tráfego era intenso assim como as lágrimas que não paravam de escorrer. Quando eu choro em público, na maioria das vezes, consigo conter os espasmos musculares do rosto e só. Choro quietinha para não importunar ninguém e sempre carrego meus lenços Kiss. Curiosamente, as pessoas sentem-se incomodadas quando percebem o outro nessa situação e com o senhor que estava sentado ao meu lado não foi diferente. Na primeira oportunidade, ele engatou uma conversa comigo: falamos sobre o trânsito, ele imendou com assuntos de trabalho, contou sobre sua esposa e filhos e, quando nos demos conta, chegou a hora de ele descer. Conversar com aquele senhor fez com que, por aqueles momentos, a minha tristeza ficasse suspensa e as minhas lágrimas parassem de cair. Eu estava esgotada emocionalmente e esse papo permitiu que eu descansasse de mim mesma.

Quando chegou a minha vez de descer, segui para o SESI e fiquei assistindo a aula de Power Jump na qual eu estaria se não tivesse pegado trânsito. A música alta e a energia da aula continuaram mantendo minha tristeza em suspenso. Voltando pra casa, ouvi o recado de um colega de trabalho dizendo que tínhamos feito uma boa reunião e que tinha ficado feliz por eu ter tocado (e bem) boa parte dela. Não sei se pela confluência de tudo isso, mas, tive um fim de semana bom, agradável. No sábado estive na companhia dos meus amigos da arqueologia, com os quais trabalho atualmente; percebi o quanto me sinto a vontade e feliz ao lado deles, mesmo não compreendendo muito das piadas e dos assuntos sobre os quais eles conversam. Pensei como a vida pode ser boa. Domingo comemos uma comida saborosa aqui em casa com os tios de Sorocaba, que são sempre muito carinhosos.

Acho que, como a maioria dos seres humanos, tenho o instinto de sobrevivência e, talvez por isso, eu esteja sempre buscando maneiras de sair do pântano no qual me encontro. Suicídio não é uma opção para mim, por isso, fui procurar a terapia, que deverei começar em breve. Terei muito assunto para escrever.

Acho que está na hora de eu renascer, de novo!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

De segredos e de olhares - Kate




Guardo segredos da alma

Guardo segredos na alma

Quem os descobre?

Quem me vê?


Guardo segredos por trás dos olhos

Guardo segredos em minha boca fechada

Guardo um coração aberto

Quem o descobrirá?


Minha vida,

Segredos

Abertos

Coração

Aberto

Olhos

Fechados

Peito

Nu

(porque o segredo está em não guardar segredos, porque há Um que a tudo vê...)





domingo, 23 de maio de 2010

"Garoto Interrompido" - Renata

Hoje acordei amuada. Tentei dar seguimento aos meus estudos, mesmo sendo domingo, até para espairecer e deixar o tempo passar. O máximo que consegui foi terminar um capítulo que comecei a ler na sexta-feira e que já estava perto do fim. Minha mãe também acordou se sentindo assim, então passamos a manhã conversando sobre como nos sentíamos simplesmente insatisfeitas hoje e, juntas, buscamos explicações racionais para esse sentimento.

O clima intensifica a melancolia, é claro: além de frio, o céu está cinza e cai uma garoa fina. Na minha opinião, o Sol contribui muito mais para o bom humor do que um céu nublado.

Juntas, minha mãe e eu conseguimos enumerar alguns pequenos acontecimentos que, em conjunto, poderiam ter desencadeado essa insatisfação em cada uma de nós. Todos eles insignificantes, é claro. Nenhum deles apresentava qualquer fator irreversível ou nos afetava de maneira mais grave, ou seja, em nada alteravam nossas vidas; além do mais, sobre nenhum deles tínhamos controle. O Sol, por exemplo, por volta das 13h apareceu esplendoroso e encheu nossa sala com uma luz aconchegante, que em nada se parecia com a manhã cinza que havíamos presenciado - agora, 15:46, entretanto, o cinza voltou a reinar absoluto.

Minha mãe e eu, cada uma a sua maneira, nos engajamos em atividades prazeirosas: ela foi pintar e decorar camisetas e eu fui ler um romance. Depois do almoço, liguei a tv e estava começando um documentário norte-americano chamado "Boy Interrupted", dirigido por um casal de cineastas, cujo filho adolescente cometeu suicídio aos 15 anos de idade. O filme era, ao mesmo tempo, uma tentativa de lidar com a perda e de tentar, no meio desse processo, entender o que deu errado.

O casal construiu o documentário a partir de vídeos familiares gravados desde o nascimento do garoto Evan até pouco antes de sua morte. Desde a tenra infância o garoto apresentava sinais de depressão e aos sete anos de idade foi diagnosticado como Bipolar II, estágio onde a depressão se manifesta. Essa descoberta veio depois que o garoto subiu no telhado do prédio escolar de seis andares e ficou na beirada dele simplesmente mirando o chão. Antes disso, Evan já falava em suicídio, fazendo com que a "arte" de subir no telhado ganhasse proporções mais sérias.

Evan foi internado em duas clínicas, tomou medicação para equilibrar quimicamente as substâncias responsáveis por sua depressão e recebeu toda a atenção que a família podia dar. Na adolescência, foi matriculado em um colégio comum, após sair da clínica de reabilitação, fez amigos e era um estudante exemplar. Todo esse movimento não impediu, entretanto, que ele cometesse o suicídio, atirando-se pela janela do apartamento onde morava com os pais e o irmão mais novo. O garoto deixou uma carta extremamente racional, elencando seis motivos para morrer e seis para viver; apesar de empatados, o rapaz estava certo de que o caminho a seguir era, senão, a morte.

Ao longo do documentário e depois dele ficou a compreensão emocional de uma constatação que ouvi inúmeras vezes nas discussões universitárias sobre como essa insatisfação inerente ao ser humano é uma das molas propulsoras do consumo, senão a mais importante delas.

Minha mãe, eu, você, o Evan, todos temos uma insatisfação inerente que simplesmente é, sem outra razão de ser, senão simplesmente existir. Alguns de nós buscam conforto no consumo de filmes felizes, outros no consumo de roupas da moda (que nem sempre caem bem); outros ainda buscam algum conforto na religiosidade, nos estudos ou no trabalho. Acrescento também os que buscam conforto no sexo, na bebida e na comida.

Buscamos todos os dias algum conforto, algo que nos tire a atenção dessa insatisfação chata, que é como um beliscão leve, mas que dói e irrita porque é constante.

Muitos de nós consegue seguir adiante com a retroalimentação do conforto. Outros, como Evan, simplesmente não suportam a dor e vêem na morte a única maneira de escapar dela.

Atualmente minha fuga, ops, conforto tem sido a leitura de livros para me preparar para uma especialização que tenho interesse em fazer. Além do mais, adoro pensar no futuro como um período de possibilidades e cheio de confortos, alguns desses eu ainda nem conheço. É isso que me mantém sempre em frente!

terça-feira, 6 de abril de 2010

Passa tempo - Renata

Li certa vez que o melhor a fazer enquanto se espera (por qualquer coisa) é encontrar ocupações. Pois eu tenho procurado várias: tarefas domésticas diárias, leituras de livros, assistir filmes em DVD, sair para tomar um café com amigos no meio de uma tarde de semana, dormir ... Entretanto, pensar é o que tem de fato me ocupado. Pensar no futuro, na minha profissão, no que estou fazendo (ou não) da minha vida.

Um pouco antes de o projeto no qual eu estava trabalhando acabar, fui com familiares jantar em um restaurante japonês. Coincidência ou não, a mensagem do biscoito da sorte dizia:

"Você passará por um teste difícil
que o tornará mais feliz."

Não tenho dúvida de que sobreviver aos meus próprios pensamentos é esse teste. Para mim não há nada mais atemorizante do que eles.

Tenho lido (quando consigo me concentrar) "O Livro Tibetano dos Mortos", uma leitura budista praticada para ajudar o morto a encontrar seu caminho no Bardo, aquele entre a morte e o renascimento. O que me atraiu nessa leitura foi que para os budistas, aprender a morrer é aprender a viver. Até onde eu li, a consciência ao deixar o corpo físico se depara com três estágios nos quais tem a possibilidade de transcender ao nirvana. Em contrapartida, essa mesma consciência sofre a influência ilusória dos desejos e pensamentos da existência prévia e esses, ao mesmo tempo em que maravilham, atemorizam, confundem e afastam a consciência da divina luz. A consciência, incapaz de atingir o nirvana, reencarna.

Nem preciso dizer que ainda viva e longe de atingir o nirvana, encontro-me na mesma situação.

Alguns filósofos dizem que o segredo para uma boa vida é privá-la de desejo. Outros retrucam que privando-a de desejo, privam-na também de vida. Os desejos ao mesmo tempo que nos impulsionam, podem transformar a vida num fardo.

Os meus parecem tão distantes e, às vezes, nem parecem meus. Desejo viver um grande amor, desejo trabalhar num ambiente agradável, fazendo o que gosto e ganhando dinheiro. Desejo conviver bem com meus ambíguos sentimentos e, desejo mais do que tudo, sossego mental!

Dizem que conseguir tudo ao mesmo tempo é praticamente impossível, mas cultivo a esperança de um dia conquistar o impossível. Estive bem próxima do que considero o sossego mental, quando estive em Natal no réveillon de 2009/2010. Claro que o ambiente, as companhias e o fato de eu estar de férias recebendo salário contribuíram para essa conquista. Ajuda saber que já experienciei a sensação que busco, pois isso a torna real, possível.

Por outro lado, o dia a dia transforma essa minha busca numa maratona exaustiva e confusa, regada a opiniões diversas sobre quem sou e o que devo fazer da minha vida.

Há um filósofo moderno que diz que o melhor dia é aquele no qual não pensamos em nós mesmos. Concordo plenamente. Estou exausta de mirar meu próprio umbigo e na tentativa de mudar de foco, resolvi me expor um tanto mais neste blog para ver se, dessa maneira, sacio meu ego e ele pára de me importunar. Pelo menos por ora.

Observação: assim que publiquei o texto acima, recebi uma mensagem de celular de um amigo que está cursando filosofia. Achei que a frase faz relação com este.

"A vida nada mais é que a produção de um cadáver." (Walter Benjamin)

domingo, 28 de março de 2010

E agora? - Renata

Amanhã será um dia importante para mim, pois poderá definir os próximos passos em direção ao meu futuro profissional. Estou ansiosa e dormi mal a noite passada. Resolvi escrever para liberar um pouco dessa aflição que me agonia!

Enquanto me questiono sobre o que poderia ser o tema da avaliação e dentro do que imagino que seja, me preparo para ele, não consigo deixar de pensar que somos muitos e todos batalhando por uma única vaga. Esse fato é o que mais me angustia, seguido pelo questionamento sobre o que farei se essa oportunidade específica não se concretizar.

Nessa hora eu gostaria de ouvir de uma pessoa com habilidade de antever o futuro que a vaga será minha ou que, se não for o caso, outra oportunidade tão boa quanto essa de amanhã surgirá muito em breve. No atual momento, a única pessoa que tem dito isso para mim tem sido eu mesma e eu, (in)felizmente não tenho tal dom.

O jeito é continuar seguindo às escuras, dando o melhor de mim e esperando para ver se este foi suficiente por agora.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Mais um dia - Renata

Hoje acordei de mal humor. Dormi pouco, tenho trabalhado 12 horas por dia, ainda não consegui uma brecha pra ir cortar os cabelos. Há pouco, como em todos os dias, vim num ônibus lotado, no qual entrei e fiquei na mesma posição por dez minutos, aguardando que alguns dos muitos passageiros descessem para que eu pudesse me posicionar de maneira menos incômoda.

Enquanto o ônibus chacoalhava, eu pensava: "que merda que é isso!"

Há dias que são mais difíceis que outros. Os questionamentos vão longe e o propósito da existência parece ainda mais vazio. Mas, como o trabalho e a vida seguem, não há muito o que fazer senão seguir também. E eu continuo seguindo, por mais um dia.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Mais sobre imagens (na realidade só uma, do mar...) – Kate



Sou privilegiada. Tenho diariamente mais de 10 quilômetros de mar para admirar na ida para o trabalho. Em dias alegres, abro um sorriso quando miro aquele enorme aquário gigante, simplesmente embevecida com aquela paisagem, ora incrivelmente verde, ora cheia de tonalidades azuis e em dias de céu nublado, cinzento e não menos belo. Nas manhãs melancólicas, abro um sorriso quando descubro aquela capa compacta balançando-se ao sabor do vento, formando marolas e ondas mais fortes. Devagar, ponho meu queixo no lugar devido e aperto um pouco mais os olhos para expandir a linha do horizonte. Minha miopia a deixa trêmula e ainda assim bastante encantadora.

O que mais me fascina no mar é a onda. Aquela espuma forte que vem com força quebrar na areia, lambendo as pedras, fazendo a festa dos surfistas. Uma onda quebrando é inspiração para dias difíceis, em que será necessário usar a força para afastar as pedras, associada à beleza nos gestos para manter a dignidade. Uma onda no mar traz a inspiração necessária para o equilíbrio no enfrentamento deste mar chamado rotina.

Uma onda dura o tempo necessário para se tornar majestosa, inesquecível... Vem se avolumando devagar junto a outros tantos litros de água salgada e de repente cresce, fica maior que todo o mar logo abaixo, causa vários sentimentos, medo ou alegria, admiração ou terror, depois se dobra com a força de si mesma e começa a desconstruir-se, de forma não menos bela, através da espuma branca, quando então volta completamente para o mar, incorpora-se a ele, tornando-se discreta, tornando-se apenas mar, para ajudar a formar, talvez, novas ondas.

Ondas são inspiradoras, num mar quase infinito, elas se destacam, atraindo a atenção para si.

Na volta para casa, não as vejo, engolidas pela potente escuridão da noite. A despeito disto, elas continuam a dar seu espetáculo. Não preciso ver, basta ouvir para sabê-las ali, firmes, breves e belas.

Geralmente chego ao meu destino com uma agradável sensação de pequenez, de brevidade, seja da tristeza, seja da melancolia e com novas sensações, de liberdade, de imensidão, de renovação da beleza, de majestade.

Uma boa onda é capaz de transformar meus sentimentos, diminui a dor e potencializa a felicidade... e elas nunca me deixam esquecer que nossa vida, a de cada um de nós, dura o tempo de uma onda...

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Ainda sobre o Silêncio - Kate



Ouvi, em dias recentes, que o silêncio é um dentre alguns poucos itens considerados valiosos neste século, junto ao tempo e ao espaço.
Ter silêncio virou objeto de desejo.
O homem aprendeu a falar há muitos anos, mas esqueceu-se do silêncio, desde então, foi pouco a pouco abandonando o silêncio num canto escuro, como se a evolução não combinasse com ele. Como se silêncio e crescimento não casassem. Deve ter havido tempo em que devia ser vergonhoso e pouco digno tanto silêncio.
Agora? Agora não!
Agora este é buscado e ansiado. Logo mais alguém inventará alguma forma de comercializá-lo, uma vez que em dias atuais tudo definitivamente é pensado em função do capital. Logo, teremos de comprar silêncio e haverá os que ganharão benefícios do estado com fartos nacos de silêncio grátis.
- Vai um silêncio aí? – vão nos gritar pelas janelas, nas ruas, no mundo virtual.
- Puxa! Meu marido vai me matar quando vir a fatura do cartão de crédito. Gastei até o limite com silêncio! – as esposas medrosas, mas consumistas vão se lamentar.
- Você viu no noticiário? Eles estavam contrabandeando silêncio e lucrando com isso! Onde é que vamos parar desse jeito? Será que não têm pena nem das crianças? Se continuar assim, elas jamais saberão como é o silêncio!– se revoltarão alguns.
Pensando assim, vivo intensamente cada silêncio que consigo. Assusta-me às vezes em que não consigo curtir o silêncio que me chega naturalmente, como se meus sentidos não soubessem mais do que se trata. Meus neurônios fazem suas sinapses e demoram cada vez mais tempo para clarear a informação: isso é silêncio! Ah!
Na realidade, o silêncio parece inversamente proporcional à presença humana: quanto mais gente, menor o silêncio.
Há que se esclarecer que a ausência de silêncio não significa uma interação profunda e empática entre as pessoas, muito pelo contrário. A falta dele é quebrada com sons que mais afastam que aproximam: carros, buzinas, músicas (algumas boas, a maioria ruins), gritos, xingamentos e palavras superficiais.
Palavras são boas para conectar pessoas, mas diálogos superficiais não nos levam a lugar algum. Parecem servir, na maioria das vezes, para multiplicar a distância, despistar desavisados ou freqüentemente não cairmos no desconfortável silêncio.
Silêncio, substantivo cheio de adjetivos contraditórios: desconfortável, desejado, difícil, calmante, irritante, poderoso.
Quando soubermos nos achegar uns aos outros em silêncio, nos encontrar em silêncio, nos sentirmos bem uns com os outros em silêncio, quando soubermos aguardar respostas em silêncio, quando o silêncio fizer parte de nossa humanidade, teremos enfim crescido.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Felicidade - Renata


iDicionário Aulete: sf.1. Qualidade, condição ou estado de feliz; grande satisfação ou contentamento. 2. Boa sorte. Bom êxito em algo que se fez; SUCESSO.

Difícil a conquista dessa tal FELICIDADE. Para que ela se realize é preciso que haja a confluência de vários fatores, que nem sempre são de fácil alcance. Estar bem consigo mesmo, estar bem no amor, estar bem com a família e os amigos, estar satisfeito e motivado no trabalho. Estar bem consigo mesmo é algo que depende, prioritariamente, de si mesmo. Todo o resto, entretanto, depende também de outras pessoas.

Admiro muito aqueles que batalham pela felicidade.

Um grande amigo, alguns anos mais experiente que eu, é um exemplo no qual eu me espelho. Casou-se e teve dois filhos quando ainda era muito jovem, em torno dos 17 anos. Quando os filhos ainda eram pequenos, percebeu-se infeliz no casamento e decidiu se separar. Na época, seu irmão aconselhou-o a não fazê-lo porque isso ocasionaria um desgaste emocional e financeiro. Ao invés de se divorciar, ele poderia manter casos extra-conjugais, sugeriu o irmão.

Meu amigo seguiu firme em sua decisão e se separou da mulher. Não foi fácil, foi mesmo desgastante, mas ele seguiu em busca do que o faria feliz. Talvez, ele nem soubesse exatamente o que lhe faria feliz, mas seguiu em busca da felicidade mesmo assim. Envolveu-se com outra mulher, tempos depois, com a qual se casou. Não sei ao certo quanto tempo ficaram juntos, mas o relacionamento tampouco durou para sempre.

Nesse meio tempo, ele também seguiu batalhando por um lugar de destaque em sua profissão, a princípio para proporcionar a seus filhos as oportunidades que não teve.

Hoje em dia, com os filhos já inseridos no mercado de trabalho e criados para a vida, esse meu amigo parece ter finalmente encontrado a felicidade. Parece-me que ao menos sente-se feliz a maior perto do tempo, o que eu considero uma vitória. Casou-se pela terceira vez com uma mulher com a qual compartilha uma percepção de mundo muito similar a sua própria.

Conversamos muito sobre essa busca pela felicidade, esse meu amigo e eu. Ele me disse que finalmente compreendeu que não se pode ter tudo o que se deseja na vida, mas pode-se aprender a ser grato a ela por aproximar-se muito desse tudo. E por esse quase tudo ele é muito grato à vida.

Outro caso que tenho como referência é o da minha tia querida. Para mim, ela é um exemplo de pessoa que se reinventou como mulher e como profissional. Ela também casou-se cedo com o então amor de sua vida. Ela tocou em paralelo o casamento, o trabalho e a faculdade. Lembro-me de chegar no sábado em sua casa e ela estar estudando e fazendo trabalhos da faculdade. Quando se formou, o casamento entrou em crise. Embora apaixonada pelo marido, minha tia sempre gostou de viajar, de conhecer pessoas, sempre foi muito falante, mas, por alguma razão, casou-se com um homem, cujo divertimento era assistir televisão.

Eles tentaram ter um filho, mas ela teve um aborto natural. Paralelamente, ela decolava no trabalho. Frustrada e infeliz, ela resolveu se divorciar. Foi uma loucura. O marido disse ok, mas, como era ela quem queria "desistir" do casamento, não teria direito a nada do patrimônio conjunto de ambos. Minha avó, muito católica e, na época, muito mais inflexível, mostrou-se contrária a decisão e, no momento em que minha tia mais precisava do carinho de sua mãe, nela encontrou apenas críticas.

Foi nessa época que ela e minha mãe aproximaram-se e se tornaram muito amigas. Minha mãe, que também se separava de meu pai, ofereceu o carinho, a compreensão e o ombro amigo que a tia tanto precisava.

Titia abriu mão do que lhe era de direito e reconstruiu sozinha sua nova vida: alugou um apartamento, comprou o que era necessário para viver nesse novo lar e começou a viajar muito. Viveu experiências que nunca poderia imaginar e seguiu em busca da própria felicidade. Depois de 18 anos trabalhando na mesma empresa, ela resolveu sair em busca de novos desafios profissionais. Foi estudar inglês em Chicago, nos EUA, antes do episódio de 11 de setembro. Preparou seu currículo e foi até um hotel no centro da cidade a fim de conseguir um emprego como arrumadeira. Lá, a pessoa que a entrevistava não conseguia entender como uma profissional com a formação e experiência dela desejava trabalhar como arrumadeira. Simples: ela precisava trabalhar. Coincidência ou não, aquele hotel precisava de uma contadora e a pessoa que entrevistava a minha tia achou que ela poderia muito bem preencher essa vaga.

Ela agarrou essa oportunidade, virou-se com o então inglês derrapante e exerceu com excelência a sua função no departamento de contas daquele hotel. Faz 10 anos que ela está nesse mesmo hotel. Chegou ao cargo mais alto na hierarquia do departamento de contas; foi lá também que conheceu o atual marido. Hoje, ela também encontra-se mais próxima de sua felicidade, embora tenha enfrentado inúmeros momentos de tristeza, solidão e sofrimento. Valeu a pena e ainda vale a pena lutar para ser feliz.

A busca por ela geralmente é acompanhada de sofrimento, perdas e solidão, mas, VALE A PENA!

De um ano pra cá, meu objetivo de vida tem sido a busca pela minha felicidade e para conseguí-la estou gastando muita energia mental e física para descobrir o que me faz feliz e para transformar o que me deixa triste. Sempre que desamino nessa minha busca, lembro-me de meus dois exemplos.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Silêncios e Imagens - Kate





Se me pedissem para resumir nosso reencontro em duas palavras eu diria: silêncios e imagens. Fui pega-la no aeroporto lotado ansiosa por nos revermos. Somente para variar um pouco o vôo atrasou e a gente já pensa mil bobagens, devido às tantas tragédias que vemos diariamente.

Mas ela chegou tranqüila, bonita, leve e intacta. E bem ansiosa para rever o mar. E foi o mar a primeira imagem que tivemos juntas e a última também. Toda a viagem foi regada a mar. Vimos o mar de diversas praias. Pela manhã, de tarde e a noite.

Nossos papos foram poucos, leves, nossos silêncios preencheram mais, não precisávamos de tantas palavras, tínhamos o presente.

Tenho diversas imagens gravadas em minha mente: o sorriso franco olhando o mar, respirando a brisa fresca que subia das ondas, a careta engraçada enquanto tentava descobrir como se come um caranguejo, a cara de espanto vendo a lua cheia no último dia de 2009, enquanto estava cheia de areia de uns caldos que levou do mar, o sorriso cansado a noite de tanto mar e calor, comendo peixe, lagosta, camarão, côco, ou simplesmente estática sentindo toneladas de sensações.

Tenho a imagem dela gravada na memória de diversos momentos e em todos eles ela está sorrindo.


segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Novo Começo - Renata


Há pouco mais de um ano, exatamente na virada de 2008 para 2009, fiz uma resolução de ano novo: eu gostaria de ser mais feliz. Essa felicidade seria o resultado da conquista do meu amor próprio, da leveza de conhecer, aceitar e lidar com as minhas próprias limitações e entender, lá no fundo, que eu sou a única pessoa no mundo sobre a qual eu tenho controle. Todas as demais pessoas e situações não estão sob o meu controle, portanto, são imprevisíveis e, sendo assim, eu preciso aprender a lidar com o imprevisível.

A princípio, esse pensamento me pareceu atemorizante! Num segundo momento, porém, libertou-me da angústia de temer o futuro. Fui ao longo do ano aprendendo a viver um momento de cada vez, a saltar em mar aberto, seguida apenas pelo desejo de melhorar, de crescer, de ser feliz. Saí do emprego onde comecei minha carreira sem ter nada em vista e, desde então, tenho emendado um trabalho no outro.

Em agosto de 2009 comprei passagens para passar a virada do ano em Natal com a família que conheci há dois anos atrás, na minha primeira viagem à cidade. Sempre que conversava com Kate a respeito dos passeios que faríamos, eu enfatizava o meu desejo de viver momentos leves, sem necessidade de fazer passeios mil, só para voltar a SP contando vantagens. Por outro lado, eu desejava experiências gostosas, completamente inesperadas e, por isso mesmo, marcantes.

Eu gostaria também de vivenciar a cidade onde a minha prima mora, a Natal que trabalha, que toma ônibus, a Natal que está muito além do que nós turistas costumamos ver. Eu consegui isso. Até passar uma tarde no trabalho de Kate eu passei e também emendei um happy hour divertidíssimo com os colegas dela.

Como não podia faltar em Natal, me enchi de mar, de areia e de sol. Vi a lua surgindo no horizonte, atrás do mar, uma cena que definitivamente está no meu baú de memórias. Experimentei caranguejo e ostra, comi peixes, camarão, bombom de cupuaçú, suco de graviola, cuscuz e tapioca. Água de côco e cerveja também foram muito consumidos no calor, às vezes, sufocante de Natal.

A cada dia a vida me presenteava com uma experiência única, bela e inesperada. Eu fazia a minha parte: de coração aberto eu esperava o melhor e curtia ao máximo o momento no qual eu me encontrava. Fiz questão de dizer - sempre que sentia vontade - o quão feliz eu me sentia de estar ali, naquele momento, vivendo o que eu estava vivendo com aquelas pessoas. E elas também fizeram o mesmo.

Quando eu não podia esperar mais nada da viagem, pois achei que eu já tivesse sido abençoada com tudo, o destino me apresentou a um rapaz de espírito leve e livre, com o qual tive o prazer de curtir uma longa caminhada pela praia de Ponta Negra. Nesse meu penúltimo passeio, pude registrar cheiros, sensações e imagens que me ajudarão a seguir o ano com paciência, determinação e leveza.

Agradeço à vida pela extraordinária viagem.