quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A falta que o equilíbrio faz - Kate

O equilíbrio é algo raro, difícil, raramente buscado e pouco alcançado.
Com equilíbrio podemos pensar com clareza, sentir com intensidade sem enlouquecer, nos expressar com justiça, realizar com firmeza, todas as atividades diárias.
Com equilíbrio, a dor não desaparece, mas fica relegada ao seu lugar, sem atropelar as atividades do dia-a-dia.
Com equilíbrio podemos atravessar com calma as agruras que nos acontecem ao longo da vida.

Já faz um tempo que acho que o maior problema da humanidade é o equilíbrio, isto é, a nossa falta de equilíbrio.

Se falamos alto demais e nossa mãe nos passa um sermão, ficamos amuados e passamos ao silêncio. É só falar baixo, pronto. Mas radicalizamos e vamos para o outro extremo.
Lembro que uma vez, quebrei um disco que adorava do Kid Abelha, só porque achava que não era música de Deus. Poxa! Deus nos fez, como diz a Bíblia, à sua imagem e semelhança e hoje julgo que o que fazemos de bom, inclusive boas músicas são dele também. Era um LP, mas me arrependo demais! Pela minha atitude radical.

Fui radical aquele dia e tenho certeza de que em outros mais.
Pior ainda quando somos radicais com o outro. Se eu estou certa, então você só pode estar errado, é assim que julgamos uns aos outros. A partir de nossas atitudes e experiências vamos julgando o outro, ignorando toda a sua carga de experiência até aquela atitude, até aquela conversa.
Gostei muito do início daquele seriado “Lost”. Eu mesma me peguei julgando as atitudes, capítulo a capitulo de alguns personagens e num capitulo posterior a vida daquele personagem era desfiada, até entendermos porque ele agiu daquela forma. Muitas vezes não concordei, mas estava explicado. Muitas vezes foi como levar um tapa na cara pelo julgamento que fiz! Eu teria agido mil vezes pior se fosse comigo!

Talvez, se pudéssemos desacelerar um pouco nosso ritmo de vida e parar para olhar o outro com mais completude, talvez pudéssemos nos entender melhor.

Não fomos educados para parar e pensar. Ser parado é ser lerdo, devagar, aluado (como dizemos aqui em Natal), avoado (como devem dizer em Sampa). Temos de ser agitados, rápidos, enérgicos, porque o tempo urge e pelo jeito parece que ruge também!

Ser equilibrado é agir com atenção, usar bem as palavras e o silêncio.
Ser equilibrado é se esforçar um monte para não julgar o outro (pense numa coisa difícil!).
Ser equilibrado é agir com maturidade.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Das perguntas - Kate

As perguntas estão por toda parte. Já nascemos com elas.
Por exemplo, a raça humana não sabe de onde veio e não tem a menor certeza científica de para onde vai. Assim, sem falarmos de religião ou alguma teoria fantástica. Estamos neste mundo para viver o hoje, o presente e nada mais. Parece que o sol se levanta todas as manhãs e nos grita isso. Parece que quando o dia se põe e a noite vem chegando ela sussurra devagar em nossos ouvidos: prepare-se, descanse, amanhã tem um dia novinho a ser vivido.
Cientistas, pensadores, filósofos, religiosos, poderosos, matemáticos, místicos. Ninguém jamais provou que a teoria que defende sobre o pós-vida está correta. Já reparou nisso? Vivemos, matamos uns aos outros, nascemos, evoluímos e nada de decifrarmos estes pontos delicados de de onde viemos e para onde estamos indo. Creio tratar-se de um aviso, pense você mesmo de quem, que reafirme a idéia do presente. O presente é tudo o que temos. Viveremos e morreremos e muitas de nossas interrogações não encontrarão um ponto final.
Não podemos acrescentar horas ao nosso dia, nem retirar sequer um minuto. Todos, indistintamente vivemos 24horas do dia, sejamos pobres, ricos, crianças, velhos, homens ou mulheres.
As perguntas estarão sempre em nossa bagagem. Se serão um fardo ou uma excelente companhia, cabe a cada um de nós decidir.

(...)
Meu texto acima ficou muito bonito e filosófico, eu sei, mas o dia-a-dia não é tão simples assim. Na rotina diária, queremos respostas para ontem, explicações para anteontem e por isto temos frustrações aos montes.
Lembro de quando pequena, acreditar que minha mãe tinha o poder de fazer passar qualquer dor que eu pudesse sentir. Minha primeira frustração aconteceu por volta dos 7 ou 8 anos, quando de uma dor de ouvido ela me informou q eu tinha mesmo que esperar o efeito do remédio ou, se não passasse, teríamos de voltar novamente ao médico.
Desde a infância descobri que não teria a resposta que estava aguardando, nem minha mãe poderia dá-las para mim quando eu exigisse.
Foi na adolescência que tencionei ter todas as respostas para as grandes perguntas ( de onde viemos, para onde vamos, se há vida inteligente em outros planetas...) e somente após alguns anos de insistentes questionamentos a Deus, me resignei em minha insignificância, pois concluí que, se Ele não havia respondido ao grandes pensadores, questionadores históricos, não seria a mim que iria falar.
Então sigo tranqüila agora, acompanhada de uma tonelada de perguntas que tenho ciência de que jamais saberei as respostas.... as vezes não é fácil passar em branco, em outras consigo seguir adiante...

O tempo das coisas - Renata

No senso comum existe a idéia de que o relacionamento entre pai e filha é determinante nas relações futuras de uma mulher. Se isso for mesmo verdade, eu estou ferrada, porque não lembro de meu pai e eu termos tido um relacionamento bem sucedido.

Desde que me lembro, idealizo um relacionamento feliz e completo com uma pessoa do sexo oposto. Um ideal que ainda não se concretizou. Relacionei-me poucas vezes e em nenhuma delas posso dizer que estive próxima da felicidade ou da completude. Exatamente o contrário.

Observando pessoas queridas a minha volta, percebo que para alguns , quando se trata de encontrar um parceiro (a) e relacionar-se com ele (a), as coisas fluem com a maior naturalidade. Estudando em outra cidade é possível conhecer e se apaixonar por uma pessoa que, curiosamente, vem da mesma cidade. Ou, fazer planos de ir embora para outro país, mas começar a trabalhar e, nesse ambiente profissional, encontrar a cara metade e decidir ficar, casar e constituir família. Eu entendo e imagino que em todo relacionamento há altos e baixos, período de adaptação ao outro e a necessidade de compreender os limites do outro e ser flexível.

Uma vez, conversando com minha querida prima com quem divido este blog, fiquei surpresa ao descobrir que a imagem que ela fazia de mim - no que diz respeito a relacionamentos - era a de uma princesinha a espera do príncipe encantado! Fiquei chocada ao saber que é esta a imagem que passo aos outros. Sinceramente, nunca me vi dessa maneira. Talvez, eu espere muito mesmo de um homem quando desejo que ele seja fiel e me tenha como alguém tão especial, que não tenha necessidade de sair com outras pessoas enquanto estiver comigo. Isso parece ser tão difícil de encontrar...

Justiça seja feita, tenho amigos e familiares do sexo masculino que acredito que são fiéis a suas esposas e namoradas. Ainda assim, continuo achando que são poucos os que pensam assim.

Ouvi uma vez que não importa o quanto se goste ou se tenha tesão por alguém, um dia isso acaba, como tudo na vida. Isso porque o ser humano é insatisfeito por natureza. Será mesmo? Independente disso, as pessoas se casam, têm filhos e esperam que para eles seja eterno.

Minha mãe contou-me a história de uma conhecida a quem ela admira muito, uma senhora que viveu o grande amor de sua vida depois dos 50 anos. Como a grande maioria das mulheres de sua época, ela casou-se e teve filhos. Depois de anos de matrimônio, o marido assumiu-se homosexual e partiu; isso na década de 70. A família do marido era da Hungria e a maioria deles vivia lá. Depois da notícia - não sei quanto tempo depois - ela conheceu o irmão do marido e os dois apaixonaram-se e ficaram juntos.

Histórias como essa me fazem pensar no tempo das coisas, no tempo da vida. Para cada um de nós existe um tempo para que cada coisa aconteça. E esse tempo nunca é igual ao de outra pessoa. Nunca.

Dia desses tive um sonho que achei bastante significativo. Eu tomava um rumo, um trem mais precisamente, cuja direção eu não conhecia. Resolvi pegá-lo porque só havia ele parado na estação e todo mundo ia em direção a ele. Pois bem, subi e segui até um momento que me ocorreu descer e perguntar para onde ia aquele trem. A pessoa para a qual eu perguntei, repreendeu-me por eu ter pego aquele trem em específico, porque eu havia desviado-me de meu caminho e por isso, eu levaria muito mais tempo para chegar onde deveria.

Acordei decidida a prestar mais atenção à escolha do meu caminho. Antes de seguir pra qualquer lugar, certificarei-me da direção onde o caminho me guiará e gastarei alguns minutos pensando se eu gostaria de ir para esse lugar.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

A busca pelas respostas - Renata



É por trechos como o postado abaixo, que "Cartas a um jovem poeta" tornou-se um livro de cabeceira. Embora há algum tempo eu não o pegue pra ler, muito do que li nele ainda ecoa em meus pensamentos.


Talvez porque Rilke tenha conseguido verbalizar o inefável. Todos os dias há milhares de pequenas coisas - algumas nem tão pequenas assim - que não conseguem ser explicadas pela razão e por isso há bilhares de perguntas sem resposta. Por exemplo: escolhe-se com muito cuidado um caminho a seguir e, a princípio, a caminhada segue tranquila até que surgem "as paixões" (depois explico o que são elas), nos sacodem de um lado pro outro, guiando-nos para um caminho completamente diferente do imaginado. Esse desvio é tão assustador e nos deixa cheios de perguntas: por que, por que POR QUE?


Às vezes, esses porques são respondidos, ou melhor, compreendidos muitos anos depois, quando se tem a possibilidade de observar a história, o todo que se desenvolveu após e em decorrência do desvio causado pela paixão (paixões). É por isso que quando um desvio desses deixa-me completamente às escuras, eu penso que é porque estou tão confusa com o chacoalhão que desviou-me do meu caminho inicial, que não tenho como enxergar "the big picture", como costumam dizer os norte-americanos.



É nessa hora que me apego às experiências passadas e ao que tenho de concreto em meu presente e agarro-me a isso com todas as minhas forças. Dessa maneira, vou vivendo um dia de cada vez, aguardando com muita fé a chegada de dias melhores ou dias nos quais eu sinta meus pés mais firmes no chão.

sábado, 17 de janeiro de 2009

O poeta Rilke e as perguntas


Tem paciência com tudo não resolvido em teu coração
E tenta amar as perguntas em ti
Como se fossem
Quartos trancados ou livros escritos em idioma estranho.

Não pesquises em busca de respostas
Que não te podem ser dadas,
Porque tu não as podes viver,
E trata-te de viver tudo.

Vives as grandes perguntas agora.
Talvez num dia longínquo
Sem o perceberes
Te familiarizarás com a resposta...

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Palavras - Kate

As palavras me dizem tudo. Mesmo quando ditas em silêncio.
Transmitem-me alegria e tristeza, solidão e companhia, amor e indiferença, riqueza e pobreza.
As palavras estão por toda parte. Sobem pelas paredes, atravessam portas, invadem o cheiro, o sabor, a visão, tudo.
As palavras estão nos gestos, no olhar, no silêncio, nas expressões. Também nas imagens. Em todas elas e todas as palavras estão impregnadas de imagens.
Em meio às palavras, misturadas a elas, estão os símbolos: a exclamação, o ponto final, o travessão, a vírgula, mas minha paixão é a interrogação. Aquela cabeça redonda, o corpo delgado e um ponto simples abaixo. Pronto. Minha identificação foi imediata. A interrogação resume o mundo inteiro. Começamos em algum lugar, por algum motivo e não sabemos onde vai terminar, então a interrogação é a tradução perfeita de tudo e de todos nós.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Imagens - Renata

Imagens estão por toda parte: propagandas, fotografias de família, filmes. Elas são tão encantadoras e tantas que confundem a mente, fazem o real e a ilusão parecerem uma coisa só. Além das imagens mais palpáveis, existem as que cada ser tem de si mesmo e a que outro tem daquele que está próximo. Não há nada mais conflituoso e confuso do que esses tipos de imagens. São eles que definem o rumo, as escolhas de cada um.
E quando a imagem que se tem de si próprio nem de longe corresponde ao que se gostaria? Como alterar uma imagem que já veio consigo, trazendo traços dos antepassados, mas também características que de tão intrínsecas parecem vir de fábrica?
Gostaria de poder transformar a imagem que tenho de mim mesma.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Ainda começo - Kate


Em nossa casa crescemos habituados a sempre receber algum parente em viagem. Moramos perto do aeroporto de Natal e como temos parentes no interior, em São Paulo, além de sempre ter alguém passeando mundo afora, recebemos sempre parentes de passagem. Então, acho que em abril de 2006, quando mainha nos falou que íamos receber uma prima que havia ido ao interior conhecer o resto da família e ia dar uma passada lá em casa, nem suspeitei que estava para conhecer alguém especial.
Cheguei à noite em casa e já me encantei pela garota bonita que estava na calçada da minha casa. Passeamos naquele fim de semana, mostrando alguns pontos turísticos de Natal e me senti tranqüila e à vontade ao lado de Renata. Poucos meses após sua volta para São Paulo, planejei uma ida até lá e reforçamos os laços daquela amizade que nasceu de forma tão despretensiosa.
A internet foi o meio pelo qual nossa amizade vingou. Trocamos idéias, confidências, inseguranças, saudades, dores e muito carinho. Descobrimos, à distância, o prazer nesta amizade.
Admiro sua paixão pelo cinema, arte na qual se graduou e tive a honra de estar lá na época, admiro seu espírito inquieto, questionador, sua leveza, seu caráter e sobretudo seu carinho com os que ama.
Minha vontade de ter um espaço como este na net é antiga, mas meu medo de me expor também. Assim quando Renata me falou que tinha vontade de ter um blog, não tive dúvida, me ofereci para fazermos isso juntas.
(Esta foto, foi quando nos conhecemos em 2006. A Renata é a da direita)

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Pra começar - Renata


Kate e eu teclamos por duas horas no msn, discutindo sobre o blog, sobre como começa-lo. Sugeri que o texto inicial falasse mais sobre quem somos. Na parte destinada à descrição do perfil, não há espaço pra mais de uma pessoa, portanto, tivemos de adaptá-lo. Aqui, porém, posso nos apresentar melhor.


Somos primas de terceiro grau e nos conhecemos há mais de um ano, quando estive pela primeira vez em Natal, visitando uma amiga muito querida. Essa viagem proporcionou-me a incrível oportunidade de não só conhecer minha prima Kate, mas uma parte da família, sobre a qual sempre ouvi falar, mas pouco sabia de fato.


Fiquei encantada com todos eles, especialmente com as semelhanças e particularidades que nos conectavam. Houve uma simpatia instantânea com todos eles, mas com a Kate essa simpatia se transmutou em amizade virtual - virtual, porque nossas conversas acontecem por email e msn - mas, nossa relação é muito real.


Compartilhamos angústias, pensamentos, opiniões, dúvidas e questionamentos. Ambas gostamos de escrever, mas dificilmente mostramos a alguém, pois temos medo de nos expor, mas também estamos cansadas de nos esconder. Expor-se significa colocar-se à mercê de julgamentos alheios, mas também estimula um cuidado com a exposição das ideias, para que elas sejam claras, mas também belas.


Daí surgiu o blog "libertando segredos" , de autoria coletiva de uma paulista e uma nordestina, primas que se conheceram na idade adulta, mas que compartilham o desejo de escrever e de expor o que escrevem, mas nunca ousaram fazê-lo sozinhas.