terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Mais sobre imagens (na realidade só uma, do mar...) – Kate



Sou privilegiada. Tenho diariamente mais de 10 quilômetros de mar para admirar na ida para o trabalho. Em dias alegres, abro um sorriso quando miro aquele enorme aquário gigante, simplesmente embevecida com aquela paisagem, ora incrivelmente verde, ora cheia de tonalidades azuis e em dias de céu nublado, cinzento e não menos belo. Nas manhãs melancólicas, abro um sorriso quando descubro aquela capa compacta balançando-se ao sabor do vento, formando marolas e ondas mais fortes. Devagar, ponho meu queixo no lugar devido e aperto um pouco mais os olhos para expandir a linha do horizonte. Minha miopia a deixa trêmula e ainda assim bastante encantadora.

O que mais me fascina no mar é a onda. Aquela espuma forte que vem com força quebrar na areia, lambendo as pedras, fazendo a festa dos surfistas. Uma onda quebrando é inspiração para dias difíceis, em que será necessário usar a força para afastar as pedras, associada à beleza nos gestos para manter a dignidade. Uma onda no mar traz a inspiração necessária para o equilíbrio no enfrentamento deste mar chamado rotina.

Uma onda dura o tempo necessário para se tornar majestosa, inesquecível... Vem se avolumando devagar junto a outros tantos litros de água salgada e de repente cresce, fica maior que todo o mar logo abaixo, causa vários sentimentos, medo ou alegria, admiração ou terror, depois se dobra com a força de si mesma e começa a desconstruir-se, de forma não menos bela, através da espuma branca, quando então volta completamente para o mar, incorpora-se a ele, tornando-se discreta, tornando-se apenas mar, para ajudar a formar, talvez, novas ondas.

Ondas são inspiradoras, num mar quase infinito, elas se destacam, atraindo a atenção para si.

Na volta para casa, não as vejo, engolidas pela potente escuridão da noite. A despeito disto, elas continuam a dar seu espetáculo. Não preciso ver, basta ouvir para sabê-las ali, firmes, breves e belas.

Geralmente chego ao meu destino com uma agradável sensação de pequenez, de brevidade, seja da tristeza, seja da melancolia e com novas sensações, de liberdade, de imensidão, de renovação da beleza, de majestade.

Uma boa onda é capaz de transformar meus sentimentos, diminui a dor e potencializa a felicidade... e elas nunca me deixam esquecer que nossa vida, a de cada um de nós, dura o tempo de uma onda...

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Ainda sobre o Silêncio - Kate



Ouvi, em dias recentes, que o silêncio é um dentre alguns poucos itens considerados valiosos neste século, junto ao tempo e ao espaço.
Ter silêncio virou objeto de desejo.
O homem aprendeu a falar há muitos anos, mas esqueceu-se do silêncio, desde então, foi pouco a pouco abandonando o silêncio num canto escuro, como se a evolução não combinasse com ele. Como se silêncio e crescimento não casassem. Deve ter havido tempo em que devia ser vergonhoso e pouco digno tanto silêncio.
Agora? Agora não!
Agora este é buscado e ansiado. Logo mais alguém inventará alguma forma de comercializá-lo, uma vez que em dias atuais tudo definitivamente é pensado em função do capital. Logo, teremos de comprar silêncio e haverá os que ganharão benefícios do estado com fartos nacos de silêncio grátis.
- Vai um silêncio aí? – vão nos gritar pelas janelas, nas ruas, no mundo virtual.
- Puxa! Meu marido vai me matar quando vir a fatura do cartão de crédito. Gastei até o limite com silêncio! – as esposas medrosas, mas consumistas vão se lamentar.
- Você viu no noticiário? Eles estavam contrabandeando silêncio e lucrando com isso! Onde é que vamos parar desse jeito? Será que não têm pena nem das crianças? Se continuar assim, elas jamais saberão como é o silêncio!– se revoltarão alguns.
Pensando assim, vivo intensamente cada silêncio que consigo. Assusta-me às vezes em que não consigo curtir o silêncio que me chega naturalmente, como se meus sentidos não soubessem mais do que se trata. Meus neurônios fazem suas sinapses e demoram cada vez mais tempo para clarear a informação: isso é silêncio! Ah!
Na realidade, o silêncio parece inversamente proporcional à presença humana: quanto mais gente, menor o silêncio.
Há que se esclarecer que a ausência de silêncio não significa uma interação profunda e empática entre as pessoas, muito pelo contrário. A falta dele é quebrada com sons que mais afastam que aproximam: carros, buzinas, músicas (algumas boas, a maioria ruins), gritos, xingamentos e palavras superficiais.
Palavras são boas para conectar pessoas, mas diálogos superficiais não nos levam a lugar algum. Parecem servir, na maioria das vezes, para multiplicar a distância, despistar desavisados ou freqüentemente não cairmos no desconfortável silêncio.
Silêncio, substantivo cheio de adjetivos contraditórios: desconfortável, desejado, difícil, calmante, irritante, poderoso.
Quando soubermos nos achegar uns aos outros em silêncio, nos encontrar em silêncio, nos sentirmos bem uns com os outros em silêncio, quando soubermos aguardar respostas em silêncio, quando o silêncio fizer parte de nossa humanidade, teremos enfim crescido.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Felicidade - Renata


iDicionário Aulete: sf.1. Qualidade, condição ou estado de feliz; grande satisfação ou contentamento. 2. Boa sorte. Bom êxito em algo que se fez; SUCESSO.

Difícil a conquista dessa tal FELICIDADE. Para que ela se realize é preciso que haja a confluência de vários fatores, que nem sempre são de fácil alcance. Estar bem consigo mesmo, estar bem no amor, estar bem com a família e os amigos, estar satisfeito e motivado no trabalho. Estar bem consigo mesmo é algo que depende, prioritariamente, de si mesmo. Todo o resto, entretanto, depende também de outras pessoas.

Admiro muito aqueles que batalham pela felicidade.

Um grande amigo, alguns anos mais experiente que eu, é um exemplo no qual eu me espelho. Casou-se e teve dois filhos quando ainda era muito jovem, em torno dos 17 anos. Quando os filhos ainda eram pequenos, percebeu-se infeliz no casamento e decidiu se separar. Na época, seu irmão aconselhou-o a não fazê-lo porque isso ocasionaria um desgaste emocional e financeiro. Ao invés de se divorciar, ele poderia manter casos extra-conjugais, sugeriu o irmão.

Meu amigo seguiu firme em sua decisão e se separou da mulher. Não foi fácil, foi mesmo desgastante, mas ele seguiu em busca do que o faria feliz. Talvez, ele nem soubesse exatamente o que lhe faria feliz, mas seguiu em busca da felicidade mesmo assim. Envolveu-se com outra mulher, tempos depois, com a qual se casou. Não sei ao certo quanto tempo ficaram juntos, mas o relacionamento tampouco durou para sempre.

Nesse meio tempo, ele também seguiu batalhando por um lugar de destaque em sua profissão, a princípio para proporcionar a seus filhos as oportunidades que não teve.

Hoje em dia, com os filhos já inseridos no mercado de trabalho e criados para a vida, esse meu amigo parece ter finalmente encontrado a felicidade. Parece-me que ao menos sente-se feliz a maior perto do tempo, o que eu considero uma vitória. Casou-se pela terceira vez com uma mulher com a qual compartilha uma percepção de mundo muito similar a sua própria.

Conversamos muito sobre essa busca pela felicidade, esse meu amigo e eu. Ele me disse que finalmente compreendeu que não se pode ter tudo o que se deseja na vida, mas pode-se aprender a ser grato a ela por aproximar-se muito desse tudo. E por esse quase tudo ele é muito grato à vida.

Outro caso que tenho como referência é o da minha tia querida. Para mim, ela é um exemplo de pessoa que se reinventou como mulher e como profissional. Ela também casou-se cedo com o então amor de sua vida. Ela tocou em paralelo o casamento, o trabalho e a faculdade. Lembro-me de chegar no sábado em sua casa e ela estar estudando e fazendo trabalhos da faculdade. Quando se formou, o casamento entrou em crise. Embora apaixonada pelo marido, minha tia sempre gostou de viajar, de conhecer pessoas, sempre foi muito falante, mas, por alguma razão, casou-se com um homem, cujo divertimento era assistir televisão.

Eles tentaram ter um filho, mas ela teve um aborto natural. Paralelamente, ela decolava no trabalho. Frustrada e infeliz, ela resolveu se divorciar. Foi uma loucura. O marido disse ok, mas, como era ela quem queria "desistir" do casamento, não teria direito a nada do patrimônio conjunto de ambos. Minha avó, muito católica e, na época, muito mais inflexível, mostrou-se contrária a decisão e, no momento em que minha tia mais precisava do carinho de sua mãe, nela encontrou apenas críticas.

Foi nessa época que ela e minha mãe aproximaram-se e se tornaram muito amigas. Minha mãe, que também se separava de meu pai, ofereceu o carinho, a compreensão e o ombro amigo que a tia tanto precisava.

Titia abriu mão do que lhe era de direito e reconstruiu sozinha sua nova vida: alugou um apartamento, comprou o que era necessário para viver nesse novo lar e começou a viajar muito. Viveu experiências que nunca poderia imaginar e seguiu em busca da própria felicidade. Depois de 18 anos trabalhando na mesma empresa, ela resolveu sair em busca de novos desafios profissionais. Foi estudar inglês em Chicago, nos EUA, antes do episódio de 11 de setembro. Preparou seu currículo e foi até um hotel no centro da cidade a fim de conseguir um emprego como arrumadeira. Lá, a pessoa que a entrevistava não conseguia entender como uma profissional com a formação e experiência dela desejava trabalhar como arrumadeira. Simples: ela precisava trabalhar. Coincidência ou não, aquele hotel precisava de uma contadora e a pessoa que entrevistava a minha tia achou que ela poderia muito bem preencher essa vaga.

Ela agarrou essa oportunidade, virou-se com o então inglês derrapante e exerceu com excelência a sua função no departamento de contas daquele hotel. Faz 10 anos que ela está nesse mesmo hotel. Chegou ao cargo mais alto na hierarquia do departamento de contas; foi lá também que conheceu o atual marido. Hoje, ela também encontra-se mais próxima de sua felicidade, embora tenha enfrentado inúmeros momentos de tristeza, solidão e sofrimento. Valeu a pena e ainda vale a pena lutar para ser feliz.

A busca por ela geralmente é acompanhada de sofrimento, perdas e solidão, mas, VALE A PENA!

De um ano pra cá, meu objetivo de vida tem sido a busca pela minha felicidade e para conseguí-la estou gastando muita energia mental e física para descobrir o que me faz feliz e para transformar o que me deixa triste. Sempre que desamino nessa minha busca, lembro-me de meus dois exemplos.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Silêncios e Imagens - Kate





Se me pedissem para resumir nosso reencontro em duas palavras eu diria: silêncios e imagens. Fui pega-la no aeroporto lotado ansiosa por nos revermos. Somente para variar um pouco o vôo atrasou e a gente já pensa mil bobagens, devido às tantas tragédias que vemos diariamente.

Mas ela chegou tranqüila, bonita, leve e intacta. E bem ansiosa para rever o mar. E foi o mar a primeira imagem que tivemos juntas e a última também. Toda a viagem foi regada a mar. Vimos o mar de diversas praias. Pela manhã, de tarde e a noite.

Nossos papos foram poucos, leves, nossos silêncios preencheram mais, não precisávamos de tantas palavras, tínhamos o presente.

Tenho diversas imagens gravadas em minha mente: o sorriso franco olhando o mar, respirando a brisa fresca que subia das ondas, a careta engraçada enquanto tentava descobrir como se come um caranguejo, a cara de espanto vendo a lua cheia no último dia de 2009, enquanto estava cheia de areia de uns caldos que levou do mar, o sorriso cansado a noite de tanto mar e calor, comendo peixe, lagosta, camarão, côco, ou simplesmente estática sentindo toneladas de sensações.

Tenho a imagem dela gravada na memória de diversos momentos e em todos eles ela está sorrindo.


segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Novo Começo - Renata


Há pouco mais de um ano, exatamente na virada de 2008 para 2009, fiz uma resolução de ano novo: eu gostaria de ser mais feliz. Essa felicidade seria o resultado da conquista do meu amor próprio, da leveza de conhecer, aceitar e lidar com as minhas próprias limitações e entender, lá no fundo, que eu sou a única pessoa no mundo sobre a qual eu tenho controle. Todas as demais pessoas e situações não estão sob o meu controle, portanto, são imprevisíveis e, sendo assim, eu preciso aprender a lidar com o imprevisível.

A princípio, esse pensamento me pareceu atemorizante! Num segundo momento, porém, libertou-me da angústia de temer o futuro. Fui ao longo do ano aprendendo a viver um momento de cada vez, a saltar em mar aberto, seguida apenas pelo desejo de melhorar, de crescer, de ser feliz. Saí do emprego onde comecei minha carreira sem ter nada em vista e, desde então, tenho emendado um trabalho no outro.

Em agosto de 2009 comprei passagens para passar a virada do ano em Natal com a família que conheci há dois anos atrás, na minha primeira viagem à cidade. Sempre que conversava com Kate a respeito dos passeios que faríamos, eu enfatizava o meu desejo de viver momentos leves, sem necessidade de fazer passeios mil, só para voltar a SP contando vantagens. Por outro lado, eu desejava experiências gostosas, completamente inesperadas e, por isso mesmo, marcantes.

Eu gostaria também de vivenciar a cidade onde a minha prima mora, a Natal que trabalha, que toma ônibus, a Natal que está muito além do que nós turistas costumamos ver. Eu consegui isso. Até passar uma tarde no trabalho de Kate eu passei e também emendei um happy hour divertidíssimo com os colegas dela.

Como não podia faltar em Natal, me enchi de mar, de areia e de sol. Vi a lua surgindo no horizonte, atrás do mar, uma cena que definitivamente está no meu baú de memórias. Experimentei caranguejo e ostra, comi peixes, camarão, bombom de cupuaçú, suco de graviola, cuscuz e tapioca. Água de côco e cerveja também foram muito consumidos no calor, às vezes, sufocante de Natal.

A cada dia a vida me presenteava com uma experiência única, bela e inesperada. Eu fazia a minha parte: de coração aberto eu esperava o melhor e curtia ao máximo o momento no qual eu me encontrava. Fiz questão de dizer - sempre que sentia vontade - o quão feliz eu me sentia de estar ali, naquele momento, vivendo o que eu estava vivendo com aquelas pessoas. E elas também fizeram o mesmo.

Quando eu não podia esperar mais nada da viagem, pois achei que eu já tivesse sido abençoada com tudo, o destino me apresentou a um rapaz de espírito leve e livre, com o qual tive o prazer de curtir uma longa caminhada pela praia de Ponta Negra. Nesse meu penúltimo passeio, pude registrar cheiros, sensações e imagens que me ajudarão a seguir o ano com paciência, determinação e leveza.

Agradeço à vida pela extraordinária viagem.