sábado, 21 de fevereiro de 2009

O futuro a Deus pertence - Renata

Esta semana aceitei o convite de um amigo e fui a uma casa espiritualista que ele frequenta; fui consultar-me com uma médium.

Eu não tenho o hábito de procurar respostas ou orientações em outras pessoas, porque tenho a sensação de que ninguém melhor do que eu mesma para saber o que se passa no meu íntimo. Entretanto, eu fui em busca de palavras de um espírito, um ser que não mais habita o mundo material e portanto deve ter uma percepção muito mais ampla de tudo isso do que nós mortais. Fui na expectativa de ouvir "você está fazendo a coisa certa" e, quem sabe, mais alguns detalhes do que ainda está por vir, mas a médium disse exatamente o que eu já tinha certo pra mim: estou numa fase de transição, devo "ouvir" e "seguir" meu coração, sabendo que tudo o que acontece em minha vida tem algo a me ensinar. Os caminhos estão interligados e eu devo viver intensamente cada dia dessa fase transitória, pois é nela que algumas características minhas irão se fortalecer - traços que serão necessários para mim no futuro. Depois disso, o papo mudou completamente de direção e a médium falou-me sobre as necessidades de um parente próximo e encerrou o papo dizendo: "temos um tempo médio de atendimento e eu só me prolongo quando a pessoa que me procura está com problemas sérios, o que não é o seu caso". Minha consulta terminou aí.

Confesso que saí dali um pouco frustrada, especialmente porque meu amigo havia me confidenciado a experiência prévia que teve com essa mesma médium e as revelações que ela lhe havia feito. Entretanto, meu amigo havia me alertado sobre a possibilidade de eu sair de lá sem resposta alguma, pois há coisas que nos podem ser antecipadas e outras que devemos concluir nós mesmos.

Essa experiência lembrou-me a única visita que fiz a uma cartomante em 2001. Um centro holístico estava apresentando seus serviços por valores pequenos. Nesse caso, fui direta:

- Quando arrumarei um namorado?
- Você sai pra balada?
- Não.
- Aí fica difícil!

Logo em seguida, a mulher desembestou a falar da vida amorosa da minha mãe! O que havia sido e o que estava por vir!

Esse acontecimento veio claramente a minha cabeça e me deu a certeza de que o futuro a Deus pertence. Se eu tivesse a capacidade de antever o futuro, provavelmente teria ainda mais medo dele e pode ser que eu tivesse evitado muitos dos caminhos que acabei escolhendo. Se eu tivesse feito isso, hoje seria outra pessoa e teria outra vida. E eu gosto da minha vida e da pessoa que tenho me tornado.

Esta semana li uma frase na TV do ônibus que dizia assim: "a vida é linda pra quem não tem medo dela". Só não deu tempo de ler o autor dessa frase.

Apresento um poema que me consumiu - Kate

Invasão


Sequer bate à porta,
Invade-me os espaços.
Bate-me com força nas faces,
Sopra no meu rosto
E abandona-se sobre mim, pesadamente.
Não importa se respiro ainda,
Ou não.

Basta que eu escreva o poema
Basta que seja como queira:
- uma escrava,
Sem vontades,
Sem desejos.


O poema vem
E me penetra
Com força
Com vigor

E depois
Que escrevo tudo,
Todo
Posso até morrer...


(08 de outubro de 2008)

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Fisiologia - Renata

Em agosto passado, coloquei aparelhos ortodônticos na tentativa de corrigir minha mordida e, consequentemente, amenizar a minha DTM (Disfunção Têmporo Mandibular). Essa disfunção decorre do desequilíbrio do sistema mastigatório. A mandíbula tem duas Articulações Têmporo Mandibular, uma de cada lado da face, cuja existência nos permite mastigar, falar, comer, beber. Li num site especializado que, segundo os neurologistas, esta é a articulação mais importante do corpo pela quantidade de nervos existentes. Além destes, há músculos, tendões, líquido sinovial, vasos sanguíneos e disco articular.

Por alguma razão, minha arcada dentária modificou-se de tal maneira ao longo do meu desenvolvimento físico que eu mastigava apenas do lado esquerdo, causando um trabalho excessivo para uma das ATMs. Eu costumava sentir muitas dores de cabeça, de ouvido e só percebi o quão grave estava meu caso quando comecei a sentir tontura no ônibus. Foi quando resolvi tentar reorganizar minha arcada dentária, na tentativa de corrigir essa disfunção ou, ao menos, ameniza-la.

Antes de iniciar o tratamento, assinei um contrato no qual estou ciente da possibilidade de ele não surtir o efeito desejado; o sucesso depende basicamente da resposta que cada organismo dá a série de procedimentos ministrados pelo ortodontista. Eu resolvi arriscar, pois não tinha nada a perder, muito pelo contrário: dando certo, corro o risco de curar a minha DTM.

Seis meses depois, estou lidando com a mudança radical que essa escolha causou em minha vida e não somente nos meus hábitos alimentares. Meus dentes que antes pareciam no lugar, agora estão completamente desorganizados; como diz a dentista, "está pegando nada com coisa nenhuma". Além da sensação física, ainda há a percepção que tenho do meu rosto, ele parece um pouco fora de proporção: parece mais fino e a região da minha boca parece mais protuberante. Ainda assim estou confiante no tratamento e para a minha dentista, meu organismo está respondendo rápido a ele.

Como não posso evitar, fiz uma analogia dessa minha reorganização dentária, uma questão meramente fisiológica, com a vida. Penso que as grandes mudanças são antecipadas pelo caos, denominado sinônimo de confusão pelo Houaiss, mas que na tradição platônica, significa "o estado geral desordenado e indiferenciado de elementos que antecede a intervenção do demiurgo, por meio da qual é estabelecida a ordem universal". Não sei o que é "demiurgo", mas o fato de ser algo desordenado que antecede uma organização, já me parece suficiente para reforçar o que estou querendo dizer aqui.

Toda nova organização depende de uma desorganização extremamente necessária. Observar o que mudou em si mesmo, o que não funciona mais pra si mesmo, os novos caminhos que se pretende seguir em busca do que se procura. Algumas pessoas acham que o melhor mesmo é evitar o caos, mas pelas experiências de caos que tive no passado, sei que a minha vida não seria tão boa quanto é hoje, se eu não o tivesse vivido. É claro que naqueles períodos eu não o concebia como algo necessário, já que representava muita tristeza e dor ... às vezes, até física. Sem essas experiências, entretanto, eu não saberia o tanto que sei sobre mim mesma e sobre o que quero pra mim daqui em diante.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Coragem - Renata

Recebi um cartão de natal com uma frase de Guimarães Rosa sobre as inconstâncias da vida e sobre o fato de que tudo o que ela exige de nós é CORAGEM. Mencionando esta a um amigo querido, fiquei sabendo que Cora Coralina escreveu algo semelhante, sobre bater em várias portas (como a da esperança, por exemplo), mas somente a CORAGEM ter-lhe acolhido.

Eu sempre evitei a CORAGEM, embora seja ela inevitável. Sempre que precisei dela, evitei sua presença ao máximo. Esquivava-me sempre que podia, mas quando chegava o momento em que não há escolha senão enfrentar o problema, lá estava ela a me olhar de maneira travessa, como se dissesse: "cá estou".

Uma das características que vem com o tempo é a compreensão de que um problema não desaparece sozinho. É como uma doença que acomete o corpo e causa dor; pode-se tomar remédios para camuflar seus efeitos colaterais, mas ela seguirá lá desenvolvendo-se até que seja feito um tratamento para extirpá-la.

Pela primeira vez em minha vida, decidi eu pedir sua companhia. Convidei-a pra sentar, ofereci um chá e conversamos abertamente sobre meus próximos passos. Muito compreensiva e amiga, ela disse-me que haverá momentos mais difíceis que outros, mas há algo me esperando do outro lado do Oceano. Eu confessei a ela meu receio por seguir em mar aberto, especialmente quando só o que consigo ver é a terra na qual estou pisando. Ela garantiu-me que há terra na outra ponta do Oceano, só que eu ainda não consigo enxergá-la.

De uma coisa estou certa: quaisquer que sejam as inconstâncias do mar, se eu me mantiver tranquila, não lutar contra a maré, o meu corpo mesmo será uma bóia que me manterá na superfície; certamente engulirei um pouco de água, mas seguirei respirando. Aprendi isso na aula de física.

Ah, querida Pat, resolvi seguir o coelho e bem na hora certa!

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O tempo que tiver que durar? - Renata

O tempo que tiver que durar? Tenho pensado muito sobre isso ultimamente - de novo, estamos em sintonia. No final do ano passado também perdi uma amiga; na verdade, deixei ela partir, não quis seguir com nossa amizade. Gosto muito dela, mas curiosamente não tenho boas lembranças do tempo em que partilhávamos confidências, conversas e passeios. Talvez porque ela seja tão densa quanto eu, cheia de dúvidas, questionamentos e melancolia. Depois de 12 anos de amizade, altos e baixos, achei que tivéssemos construído uma relação sólida, duradoura até que um ato meu desencadeou uma atitude pouco generosa e compreensiva da parte dela, exatamente num momento da minha vida em que eu mais precisava de apoio incondicional e principalmente compreensão e generosidade. A princípio, achei que o desencanto surgido do que aconteceu passaria, que tudo o que vivemos juntas durante esses anos todos fosse apaziguar e transformar o desencanto numa amizade mais forte, como já havia acontecido algumas vezes. Mas, não. Refleti sobre o ocorrido e percebi que ele era apenas um indicativo de uma relação que já estava caminhando para um fim. Apesar de tudo, gosto muito dela e sua presença é forte e constante em meus pensamentos.

Entretanto, compreendo o vazio que a perda de um amigo ou uma pessoa querida causa. Também compartilho desse sentimento, especialmente quando faço de tudo para que a separação não ocorra. Em toda relação há duas partes que precisam querer e cultivar o carinho, o prazer de estar junto; quando uma das partes não sente que o "esforço" vale a pena, não há conversa. Às vezes, essa pessoa somos nós, às vezes é o outro.

Essa é mais uma das tantas perguntas sem resposta, daquelas que Rilke falava.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Quanto tempo dura uma amizade? - Kate

Acredito no poder da amizade.
Acredito que no dia-a-dia construímos junto ao outro, relacionamentos cheios de graça, leveza, energia, bondade, amor, carinho e muita paixão.

Amigos não nos deixam enlouquecer naqueles dias terríveis.
Amigos nos tornam melhores.
Amigos nos acolhem e nos aceitam tal como somos, vêem nossos defeitos e acima de tudo têem prazer em estar conosco.
Acredito na amizade.

Quanto tempo dura uma amizade?
Você se lembra exatamente do dia em que conheceu aquele seu amigo espetacular? Aquela pessoa especial com quem você divide gargalhadas e receios? Aquele amigo foda com quem você foi capaz de contar aquele seu segredo cabeludo ultra secreto?

Não importa a data, nem a hora não é mesmo? Importa é que ele está do seu lado, mesmo muitas vezes a distância (o lado bom da internet). Importa que você sabe que com ele você pode contar.

Mas quanto tempo dura uma amizade? Será que há um prazo de validade? Será que amizade se expira?
Tenho amigos de longa data.
Tenho amigos recentíssimos.
Já perdi uma amizade.
Perder um amigo é como perder um sentido. É como sentir menos o perfume da vida, como ver menos a vida passar adiante de nós.
Perder um amigo deixa um buraco. Um vazio na alma, um espaço oco na mente, um vão escuro no coração.
(E não estou falando de amigos que deixam essa vida, mas de amigos que optaram por deixar nossa vida).
Conto os dias de perda de minha amizade. Passeio pelas ruas conhecidas e sinto um vazio. Parece que morri um pouco. Acho que morro um pouco todos os dias, depois que perdi minha amiga. Quando tenho uma novidade, penso nela, penso em ligar e compartilhar. Quando tenho novas piadas, guardo para contar para ela. Quando lembro, me dou um sorriso triste, respiro fundo e tento esquecer.
Mas o pior é quando estou triste, necessitada do apoio daquela minha amiga.
O vazio demora dias para amenizar.
Quando preciso de sua opinião firme, sincera, amiga.
Quando sinto saudades de nossas conversas, de suas opiniões e às vezes só do seu sorriso.
Perder um amigo é como perder um pouco de nós mesmos.
Não importa quantos amigos tenhamos, importa que aquele perdido é especial, único, como nenhum outro jamais o será...
Amigos se afastam e vão-se, mas jamais saem de dentro do nosso coração...

(Este texto escrevi quinta-feira passada, coincidentemente no sábado foi comemorado o dia do amigo. Gostaria de ter escrito sob outra ótica, gostaria de não perder amigos...)