quinta-feira, 21 de maio de 2009

Do bom de sentir saudade - Kate




Sei que estou ficando velha.

Não pelos anos que me são acrescentados, nem pelo fio de cabelo branco que já encontro todos os dias em minha basta cabeleira.

Sei que estou ficando velha, porque olho os jovens com mais doçura, com uma suave melancolia e sinto uma pontada de inveja quando observo hordas de garotos adolescentes atravessarem na faixa de pedestres à minha frente com o suor lhes manchando as camisas e um ar de triunfo no rosto imberbe.

Sei também porque os tempos de minha adolescência me parecem cada vez mais doces e distantes. Todas as agruras e incertezas que enfrentei, aqueles problemas abissais que me pareciam insolúveis e dolorosos, me trazem hoje um sorriso ao rosto.

Os tempos infantis, as brincadeiras de minha infância das quais esqueci as cantigas me parecem ter ocorrido noutra galáxia, noutro universo. O garrafão desenhado a giz branco no asfalto, o ônibus escolar que nos apanhava na porta de casa, os copos de amendoim que ganhei nas merendas da escola, além dos rasgões nas calças e os sermões dos professores parecem ter acontecido a outra pessoa. Parecem cenas de diversos filmes que assisti ao longo da vida. Todas as lembranças se misturam em minha mente e, boas ou ruins, todas me trazem saudade.

Gostaria de poder fazer-me entender pelos que passam pela infância e juventude agora. Gostaria de mostrar o filme do que é ser adulto. Ser adulto é ter saudade de um tempo que não volta jamais. Ser adulto é enfrentar as dores e o medo e não ter a barra da saia da mamãe para agarrar.

É por este discurso que tenho certeza de que estou ficando velha, mas não abro mão da juventude e da leveza que ainda habitam dentro de mim.


PS . Tenho 35...

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