terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Terça-feira, 8 de dezembro de 2009 - Renata

5:00 da manhã. O despertador do celular toca. Meu consciente me diz que se eu não levantar logo chegarei atrasada. Chove muito lá fora. 5:05 eu levanto, tomo banho, preparo o café e a marmita. Chamo a minha mãe. Continua chovendo muito lá fora.

São 7h20. Respiro fundo e me preparo para sair. Continua chovendo. A avenida onde pego o ônibus está parada. Vejo o ponto[de ônibus]mais a frente e vou matutando sobre onde poderei aguardar pela condução, já que ele está lotado. Muito lentamente o meu ônibus se aproxima; há pessoas penduradas na porta. Dez minutos depois, avisto outro ônibus e me antecipo: corro até ele antes mesmo de ele chegar ao ponto. Está cheio, mas é possível entrar nele. Dirijo-me até o fundo.

Sinto o meu polegar direito dormente, pois é ele que segurou o guarda-chuva por vários minutos. Pratico a respiração do yoga: inspiro, expiro, lentamente. Aproveito para fazer uma oração, em silêncio, pedindo paciência, sabedoria, coragem e generosidade. As minhas bolsas começam a pesar sobre os meus ombros e o ônibus nem saiu do lugar.

Estou bem pertinho de casa. Voltar para lá é um pensamento que não sai da minha cabeça. Por outro lado, a minha responsabilidade grita: hoje sou a única responsável por abrir o laboratório. Tenho que ir, não importa a hora que chegarei. Fico pensando na minha mãe, que logo mais cairia naquela via engarrafada.

As pessoas começam a fazer telefonemas, ligam para seus trabalhos...

- "Vamo entrá todo mundo às 11h, então? ´Tô desceno."
- "O fulano, dá pra você ligar pro Ciclano e avisar que ´tá o mó trânsito? Eu tô ino, mas não sei que horas chego".
- "Escuta, ´tá o maior trânsito, não vo consegui chegar aí. Posso voltar pra casa? Diz logo, porque ´tô aqui do lado!"

Diante da via praticamente intransitável, algumas pessoas começam a descer do ônibus e eu consigo me sentar. Continuo com a minha respiração e decido viver esse caos como uma experiência: tento relaxar diante da minha impotência sobre a situação, observo a reação alheia e começo a contabilizar as horas - normalmente, levo 1h, 1h30 para chegar até o trabalho.

Depois de 1h, conseguimos sair da avenida próxima a minha casa. O trânsito começou a fluir. A Castelo Branco, entretanto, encontra-se parada e o acesso ao bairro vizinho a minha casa está alagado, porque o braço morto do Tietê transbordou e a via está intransitável. Esse fato complicou o trânsito do meu bairro e dos bairros vizinhos. Tento falar com a minha mãe, mas ela não atende o celular - isso quando a chamada é completada. Essa via interditada é a única opção para chegar até a escola onde ela leciona.

O ônibus chega no meio do meu trajeto e pára novamente. O motorista desliga o motor, são 9h30. Eu envio uma mensagem pelo celular para uma colega de trabalho, avisando que estou a caminho, mas não tenho ideia da hora que conseguirei chegar. Depois de várias tentativas, consigo falar com a minha mãe. Depois de quase 1h ela conseguiu chegar até a escola. Eu também consigo falar com o meu chefe, que me orienta e me libera a voltar para a minha casa.

Eu desço do ônibus e caminho cerca de 15 minutos até o terminal de ônibus. Tem uma linha saindo para os lados da minha casa. O percurso segue tranquilo. São 11h. No centro entram várias pessoas no ônibus e, pelos comentários, todos estavam voltando para casa. Além da impossibilidade de transitar pelas vias, o trem não estava funcionando.

11h30. Chego em casa. Entro na internet para saber o que de fato está acontecendo em SP. O caos está em toda parte. O prefeito dá entrevista, diz que as obras feitas até então para preparar a cidade para as chuvas foram importantes, o problema é o volume anormal de água que caiu sobre a cidade. Eu, sinceramente, não sei o que pensar... é preciso tomar alguma providência a curto, médio e longo prazo, porque, se as coisas continuarem dessa maneira, SP irá parar antes de 2012.

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