domingo, 29 de março de 2009

Libertando Segredos - Renata


Há uma frase de Oscar Wilde que ouvi há alguns anos sobre dar forma à tristeza e assim torná-la querida para si mesmo. Esta frase muito me marcou, achei-a forte e bastante significativa. Depois disso, li Rilke sugerindo ao jovem Kappus que este escrevesse sobre sua própria existência cotidiana, suas mágoas e seus pensamentos passageiros em relatos íntimos, humildes e sinceros.

Desde que iniciamos este blog, Kate e eu temos dado forma a nossas dores, angústias e reflexões cotidianas e por meio delas nos expomos um pouquinho a cada postagem. Às vezes, ultrapassamos um pouco nossa linha de segurança e nos mostramos um tanto mais do que havíamos cogitado, mas isso é bom. Creio que mantemos muito de nossa privacidade - ambas prezamos muito isso - mas, também fazemos o exercício de equilibrá-la com o colocar-se ao mundo para, assim, poder vivê-lo plenamente.

Eu sempre gostei de conversar sobre o inefável, assim como racionalizar o que está além da razão. Às vezes, isso cansa, porque exige muita reflexão e liberdade imaginativa para fazê-lo, mas acho que se eu não o fizesse, já teria enlouquecido.

Considero-me uma pessoa racional - mesmo que nem sempre eu consiga agir dessa maneira - entretanto, minha percepção do mundo sempre se deu através de sensações que vão além da razão. Ainda criança eu podia sentir a tensão entre meus pais quando eles estavam em vias de brigar; quando se é adolescente ou adulto, tem-se ferramentas racionais para perceber coisas desse tipo, mas eu tinha menos de 7 anos e sentia tudo, sem racionalizar. Nem preciso dizer que tive vários problemas de saúde decorrentes de fundo emocional.

O bom de tornar-se adulto é o acúmulo de conhecimento que vem com os anos e com as relações sociais. São essas experiências que fornecem elementos para a compreensão do inefável, do irracional que rege nossa existência racional. Um entendimento que vai além da classificação racionalista, mas que nos permite aceitar, sem muitos traumas, a movimentação do Universo, mesmo que, por vezes, esse movimento siga um curso inefável.

A arte dá formas a esse movimento universal amorfo: sentimentos, percepções, sensações. Dizem que uma das características mais marcantes de Frida Kahlo foi o fato de ela ter dado uma forma para a dor, sua companheira inseparável desde a infância. Quando quiseram denominar seu trabalho de surrealista, Kahlo disse que pintava a si mesma, um tema que conhecia profundamente.

Frida Kahlo pintou a dor para poder suportá-la e a pintou lindamente porque a conhecia intimamente.


Escolhi o cinema para dar forma às minhas dores e este blog tem sido um exercício com o qual vou aprendendo a transformá-las em textos, expondo um pouquinho do meu íntimo a cada postagem. Dessa maneira, sou capaz de viver um dia de cada vez sem, no entanto, enlouquecer.

Um comentário:

Anônimo disse...

Nossa empatia é boa mesmo! - Kate